Se der pra negociar, tente. Ou se puder se esconder, desapareça. Se conseguir correr, corra. Mas se nada mais for possível fazer, use o krav maga. Essa foi a escolha da personagem de Jennifer Lopez no filme Nunca Mais (2002), que mostra um casamento feliz que se transforma em um pesadelo depois que ela começa a ser agredida pelo marido. A vingança veio em golpes de krav maga.
Técnica de defesa pessoal de combate corpo a corpo, a filosofia surgiu na década de 1940 como treinamento do exército israelense em um período de conflitos por proteção e independência do país. Os golpes praticados permitem a defesa da vítima com movimentos simples, curtos e rápidos, usando o próprio corpo e atacando partes sensíveis do agressor, como olhos, garganta, órgãos genitais e joelhos.
No krav maga, não interessa o sexo, a idade, o tamanho ou o peso da pessoa. Se tiver domínio da técnica, as chances de ter sucesso e sair de situações de perigo são maiores:
— Qualquer um pode enfrentar qualquer um. Se quebrou a história milenar que o grande bate no pequeno. São respostas para qualquer tipo de agressão, não importa se ela vem pela frente, por trás, do lado, se está em pé, sentado, deitado. Mostramos como se defender de um chute, de uma agressão a faca, barra de ferro, ameaça de arma de fogo, um ou mais agressores. O objetivo é dar para o aluno condições técnicas, físicas e mentais para ele voltar para a casa inteiro — explica o Grão Mestre Kobi Lichtenstein.
Considerada uma das maiores autoridades no Krav Maga na América Latina, Mestre Kobi, israelense, esteve em Caxias do Sul na última terça-feira (26) durante uma avaliação dos praticantes da técnica na região na única academia especializada na técnica de defesa pessoal da cidade. Foi a primeira vez que o especialista esteve no interior do Rio Grande do Sul realizando a atividade.
Kobi foi aluno direto do criador do Krav Maga, Imi Lichtenfeld, além de ser o primeiro faixa preta a sair de Israel com a missão de difundir a técnica pelo mundo, ao apresentar a modalidade de defesa pessoal israelense a civis e militares.
Atualmente, percorre diversos países para incentivar que as técnicas da forma como foram criadas e que ainda são aplicadas no país de origem sejam preservadas.
Como se proteger
Para a reportagem, Kobi explicou como funcionam os passos mais importantes da técnica, que podem ser dominados por qualquer iniciante em até seis meses, dependendo do perfil do aluno.
Um deles é uma defesa contra uma tentativa de agarramento: uma situação que o agressor tenta segurar a vítima pela cintura pra derrubar no chão, ou carregar pra algum lugar - prática comum em casos de tentativa de estupro, por exemplo.
A saída, segundo a filosofia, é feita posicionando os dedos nos olhos do agressor. Assim, ele gira a cabeça e leva o agressor pro chão e direciona o peso dele pros olhos. Caso precise, a vítima pode ainda entrar com uma ajoelhada por meio das pernas pra facilitar e diminuir a resistência.
A segunda que Mestre Kobi demonstrou é uma situação de pegada de pescoço com gravata lateral. É possível impedir a agressão entrando pra dois pontos sensíveis ao mesmo tempo que são os olhos e região genital. A partir daí, a vítima direciona o agressor pro chão mantendo região genital segurada e direcionando pro chão pelos olhos.
— Não há regras, competições, juízes. As pessoas procuram algo mais objetivo para andar mais seguro na rua, além de fazer uma atividade física e ter atenção e disciplina — explica.
A atividade contempla outras técnicas que são ensinadas durante os treinamentos.
Técnica como resposta à violência
A filosofia do krav maga ensina que a técnica deve ser usada como resposta à violência - quando a vítima é provocada por um agressor.
Dessa forma, não incentiva provocações e nem reações em casos de risco de vida, quando a vítima não tiver conhecimento ou condições pra fazer a sua defesa.
— O objetivo é que o aluno seja dono da sua própria vida. Não que alguém por qualquer motivo leve ele para um lugar que ele não deseja ser levado — afirma Kobi.
E foi pensando na própria segurança que o caxiense Pedro Andreola aprendeu o krav maga quando morava em Porto Alegre. Na época, ele precisava voltar da faculdade para casa caminhando à noite e em um período com aumento nos casos de assalto na capital gaúcha.
— Um amigo meu me apresentou o krav maga, fiz a primeira aula, comecei a treinar e não parei mais. Fiz curso de monitor, estágio, treinamentos e voltei para Caxias em 2019 para trazer o krav maga pra cá. Reagir não é ir para as vias de fato, mas também saber parar a agressão antes dela acontecer — afirma.
Atualmente, mais de 100 alunos, entre seis e 80 anos, treinam na academia de Andreola, localizada no bairro Rio Branco.