A passagem por baixo do Viaduto Hermes João Webber, no bairro Cinquentenário, em Caxias do Sul mudou. Motoristas e pedestres passaram a perceber, desde o início da semana, a limpeza e revitalização do local com a pintura de murais de graffiti que remetem à arquitetura, flora e fauna da cidade.
As laterais do viaduto, que passa por cima da Rua Thomás Beltrão de Queiroz, ganharam cores que iluminam um espaço marginal, esquecido por boa parte da população, mas lembrado para servir como abrigo para pessoas em situação de rua.
Com auxílio da secretaria municipal de Assistência Social, que acolheu quem dormia no entorno, 18 artistas caxienses puderam limpar, pintar e assim revitalizar o viaduto em uma ação financiada pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) de Caxias do Sul.
Capitaneados por Gustavo Gomes, artista caxiense que assina diversas murais espalhados pela cidade, grafiteiros locais deram cara nova ao local que por tantas vezes recebeu intervenções deles próprios:
— Morava aqui perto, queria pintar e o único caminho era sair pela rua e procurar locais pra fazer isso — diz Vinícius Marcon, 36 anos.
O Corja, como é conhecido na cena do graffiti, pintou, agora por cima de uma intervenção não autorizada de 2016, uma sequência de casas que representam a comunidade do bairro Euzébio Beltrão de Queiróz.
Da geração mais nova, Vitória Catarina, a Cata, 23, assinou o mural que ilustra copos de leite e costelas de Adão com Giovana Tomazi, 22, conhecida por Govsna.
— Acho que é um passo importante para a ocupação dos espaços públicos, com artistas que antes já tinham o seu trabalho aqui, mas de uma forma vandal. Então, eles serem convidados para virem pintar de novo, tem uma nostalgia de artistas dos anos 2000 e 2010, agora com técnicas diferentes — define Cata.
Nova roupagem
Para Gomes, a ação representa a maturidade da arte caxiense em um movimento de dar espaço aos artistas, revitalizar as ruas e dar novo significado a locais que até então tinha a vista da sociedade desviada.
— Voltamos a ver a população passar a pé por aqui, que muitas vezes desviava e passava por cima. Na Júlio, isso faz diferença no cotidiano das pessoas e a forma como a gente veste nossa própria cidade. O viaduto não era lavado desde 1981, os artistas que fizeram suas manifestações ao longo dos anos estão pintando nesse momento, isso faz diferença para a maturidade da arte caxiense — diz.
A conclusão das pinturas está prevista para ocorrer durante o final de semana. Neste sábado, durante a ação, DJs estarão no Largo do Correio Rio Grandense garantindo a trilha sonora para quem passar por ali.
A revitalização do Viaduto Hermes João Webber tem financiamento da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) de Caxias do Sul e realização do Instituto SAMbA, com apoio institucional de Mosaico na Quebrada, Tintas Renner e Codeca; e apoio cultural do Instituto Elisabetha Randon e Villagio Caxias.