A história da música popular passa pelo gênero que nasceu no Sul dos Estados Unidos no final do século 19, com pessoas escravizadas que trabalhavam nas lavouras de algodão nos estados do Sul, em especial na região do delta do Rio Mississippi. Explicar a ligação entre os fatores históricos que fizeram nascer o blues, e como este se espalhou até se tornar uma expressão artística tão original quanto influente no mundo todo, é o objetivo do projeto O Blues é Black, que tem início nesta quinta-feira em Caxias do Sul.
Capitaneada pelo historiador William Pereira e pelo músico e jornalista Tomás Seidl, a iniciativa consiste em cinco encontros, cujo primeiro terá como palco a Sala de Teatro Valentim Lazzarotto, no Centro de Cultura Ordovás. Até a metade de março, o projeto irá passar ainda pelo Ponto de Cultura UAB Cultural (18/2, domingo, às 20h), Reffugio (25/2, domingo, às 16h) e Complexo Poliesportivo da Zona Norte (10/3, domingo, às 16h), até ter seu encerramento no bar Reffugio (13/03, quarta-feira, às 19h).
A dinâmica dos encontros terá três momentos, segundo explica Tomás Seidl. Começa com um painel de contextualização histórica, segue para um bloco musical acústico, em que Seidl trará temas do blues rural dos anos 1920 e 1930, e termina com um set de blues elétrico, com temas que remetem às fases em que o blues se modernizou em Chicago, entre os anos 1940 e 1960. Para este momento, somam-se a Tomás os músicos Tiago Breda (baixo) e João Pedro Rocha (bateria).
- A ideia é que a parte musical acompanhe esse contexto histórico que vai ser dado, desde a origem no delta rural, passando pela migração para a Chicago industrial e por músicos que fizeram essa transição, como Muddy Waters, chegando ao blues mais contemporâneo, representado por nomes como Stevie Ray Vaughan, guitarrista texano. Vai rolar também uma música do Tim Maia (Sofre, de 1972) que, segundo as pesquisas do William, pode ser considerado o primeiro blues brasileiro - antecipa Seidl.
William Pereira explica que um dos objetivos do projeto é abordar o cenário histórico que propicia o surgimento do blues, e como esta manifestação ainda influencia o surgimento de novas vertentes culturais, normalmente ligadas a movimentos de resistência:
- O foco é a história social do blues, trazendo o debate sobre questões de raça, gênero e classe. Para entender a história do blues, é preciso entender as relações de trabalho da época, a escravidão nos Estados Unidos do século 19 e toda a história do país no século seguinte. É possível vermos a influência do blues tanto no hip hop quanto no slam, no sentido de serem manifestações do povo negro, que se originaram de populações marginalizadas que estavam querendo se expressar e retratar seu cotidiano.
Outro destaque de O Blues é Black é que um de seus idealizadores foi o guitarrista caxiense Cristian Rigon, que viria a falecer antes de vê-lo concretizado, em fevereiro do ano passado. Seu legado também será relembrado.
- Além de ter mantido toda a ideia de repertório que o Cristian propôs, também vamos abrir e fechar o show com músicas autorais dele - destaca Tomás Seidl.
O projeto "O Blues é Black" tem financiamento da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (LIC) de Caxias do Sul.
PROGRAME-SE
O quê: workshow de abertura do projeto O Blues é Black
Quando: nesta quinta-feira, às 19h
Onde: Sala de Teatro Valentim Lazzarotto, Centro de Cultura Ordovás
Quanto: entrada gratuita