Foram quatro anos planejando uma viagem que levou 106 dias sobre duas rodas, por meio de 50,5 mil quilômetros, percorrendo 17 países e descansando em 95 hotéis. Esse é o resumo da expedição de motocicleta do caxiense Gilberto Cavion, em parceria com o amigo Lasareno Cardoso, de Laguna. O trajeto de Caxias do Sul até o Alasca foi marcado por belas paisagens, desafios constantes, muitos carimbos no passaporte e uma porção de histórias para contar.
Cavion conta que se aventura de moto há pelo menos 45 anos. Ele já passou pelo Deserto do Atacama, no Chile, e a cidade de Ushuaia, no extremo Sul da Argentina, conhecida como “fim do mundo”.
— Nesse caminho todo, a gente viu muita coisa linda. A natureza fantástica, cultura, belezas naturais... Mas também vimos muitos países pobres. Nos Estados Unidos havia muitos parques, uma estrutura para receber turistas de toda parte do mundo. Como lá era verão tinha muita gente viajando com motorhome. No Canadá também vimos animais diferentes, como ursos, renas, veados e bisões — conta Cavion.
Durante o percurso foram três trocas de pneus traseiros e dois dianteiros, em lugares que já tinham sido previamente pesquisados pelos aventureiros, e também indicações de amigos que já tinham feito a viagem. Além disso, Cavion revela que em situações mais comuns, ele levou ferramentas e fez a manutenção na moto, como troca de óleo e reparos simples.
— Para quem é motociclista mais antigo, que anda já há muito tempo de moto, é um sonho! Quem gosta vai até Ushuaia, Macchu Picchiu e o Atacama. Mas o Alasca é um desafio maior, porque é longe, mas é possível!
Ele conta que ainda não conhecia os Estados Unidos, então, esse também foi um fator que ajudou a encorajar a percorrer os 50,5 mil quilômetros.
17 países em 106 dias
Cavion e Cardoso já tinham um roteiro com hotéis marcados e, com o andamento da viagem, os dois decidiam se era necessário parar ou não. O plano de viagem deles foi feito por um amigo do grupo de motociclistas Bodes do Asfalto, Adilson Castilhos, que, hoje, conta com 12 mil membros em todo o Brasil.
— Atualmente, com o GPS no celular é uma maravilha, né? Você vai a qualquer lugar e não se perde — brinca.
O roteiro seguiu de Caxias do Sul até Laguna, em Santa Catarina, onde Cavion encontrou-se com Cardoso. Depois, passaram pelo Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre, porque os amigos não conheciam a região Norte do Brasil e queriam conhecer.
— Saindo do Brasil passamos pelo Peru onde tem as Linhas de Nazca, que são muito bacanas. Depois fomos para a Colômbia, onde tem um santuário maravilhoso, chamado Las Lajas — recorda.
Apesar de terem ouvido de muitas pessoas que o trajeto poderia ser perigoso em países como El Salvador e Nicarágua, Cavion revela que a viagem foi tranquila:
— Deu tudo certo! A gente só não rodava de noite. Rodava só durante o dia e quando chegava umas cinco horas da tarde, a gente já parava para achar um hotel para descansar, então foi tudo sucesso! Só tem que ter paciência e calma na hora da aduana, porque se perde tempo nesses momentos.
O trajeto de Caxias até o México durou 30 dias. Depois, no 36º dia de viagem, Cavion e o amigo entraram nos Estados Unidos pela Costa Oeste.
Motociclistas do mundo todo
A partir dos Estados Unidos, Cavion e Cardoso iniciaram a travessia pela cidade de Nogales, no estado do Arizona. Então, percorreram a icônica Rota 66 até Las Vegas, onde aproveitaram para conhecer a cidade. No 49º dia os dois chegaram ao Canadá.
Pelo trajeto, Cavion conta que encontraram motociclistas de vários países, principalmente no ponto chamado “Floresta das Placas”, que fica entre o Canadá e o Alasca. Quem passa por lá normalmente deixa uma placa de lembrança.
A dupla chegou até o Alacas no 53º dia de viagem. Cavion explica que, do ponto onde entraram até percorrer a última cidade ao Norte, Prodhoe Bay, seria preciso dirigir por mais 1,2 mil quilômetros.
— É uma vila pequena, fica na beira do Oceano Ártico. No final do trajeto tem um paredão em que os motociclistas colam adesivos de quem chegou até lá. É a última cidade da América do Norte que você chega rodando — explica.
O trajeto pelo Alasca foi feito no verão e no caminho de volta, uma constatação: Cavion passou mais frio na Rota do Sol do que no extremo Norte da América.
— No Alasca tem algumas cidades grandes, muitas montanhas com árvores e umas plantas bem diferentes. Só que você tem que chegar lá no verão, porque no inverno congela tudo. Lá, a temperatura ficava entre 14°C e 6ºC. Quando eu voltei pra Caxias peguei mais frio na Rota do Sol, com 2ºC, do que no Alasca — brinca.
Resumo da travessia
A viagem iniciou-se em Caxias do Sul, em 13 de maio. Daqui, percorreram as regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do Brasil. Em seguida, atravessaram países como Equador e Colômbia em direção aos Estados Unidos e Canadá. Chegaram ao extremo Norte do Alasca no dia 6 de julho.