Foi em abril do ano passado que a Warner Bros Pictures anunciou aquele que imediatamente se tornaria um dos lançamentos mais aguardados nos cinemas desde então: o aguardado filme da Barbie, o primeiro em live action (com atores e atrizes). Mais de um ano depois, a espera está próxima de acabar. Barbie estreia na próxima quinta-feira (20) em todo o Brasil, para delírio de fãs e colecionadores que já garantiram seu ingresso na pré-venda, como o caxiense Luiz Varela Neto, 35 anos.
Luiz reserva um cômodo exclusivo em casa para a sua própria Barbielândia, nome dado no filme ao mundo mágico em que vivem todas as barbies e todos os kens, mas da qual a boneca sairá para viver uma aventura no mundo real ao lado do namorado (o casal é interpretado pela australiana Margot Robbie e pelo ator Ryan Gosling). Na narrativa, Barbie será expulsa do mundo encantado por não ser perfeita, numa clara mensagem de que o filme quer passar uma mensagem de tolerância, descolando de vez a boneca da imagem de uma beleza idealizada com a qual esteve mais associada ao longo do tempo. Essa reinvenção é parte do que guia a coleção de Luiz e também a razão que o deixa ansioso pelo filme.
– Pelo que li, o filme não irá pelo lado da futilidade. Vai trazer questões bem atuais, inclusivas, reconhecendo que vivemos um momento em que é necessário falar sobre inclusão e diversidade. Como colecionador, gosto de adquirir novas bonecas com critério, e um deles é a representatividade. Fiquei ainda mais fã da Barbie quando a fabricante passou a criar modelos inclusivos, com a mensagem de que a Barbie pode ser quem ela quiser – comenta o colecionador, que trabalha como analista de atendimento em uma multinacional.
No cômodo todo dedicado à coleção estão a maioria das mais de 700 bonecas que Luiz adquiriu ao longo dos últimos 10 anos. Embora estejam catalogadas, o caxiense explica que quantidade nunca foi a preocupação. Colecionar, afinal, é diferente de acumular:
– Minha coleção tem esse objetivo principal de resgate. Sempre foi por eu gostar de ter perto de mim um pouco do que não pude ter na infância, pelos tabus que tinha de enfrentar. Quando eu falo que é um portal, é porque a coleção faz parte da minha terapia.
Além da já citada linha inclusiva, Luiz tem carinho especial pelas barbies que homenageiam ícones da música, como Cher e Tina Turner (esta última lançada menos de um ano antes da morte da cantora), a banda New Kids On The Block ou as personagens da série de TV Barrados no Baile, um dos maiores sucessos dos anos 1990. A preferida, no entanto, é a Barbie Segredos do Coração, que chegou nas lojas em 1994:
– Essa não é das mais raras, nem das mais sofisticadas, mas era o meu sonho de infância. Por isso é tão significativa.
Antes ou depois do filme, uma exposição para visitar
Até o final de julho, quem passar pelo segundo piso do Prataviera Shopping irá deparar com uma coleção de mais de 40 Barbies de todas as épocas, incluindo alguns dos primeiros modelos da boneca a serem produzidos no Brasil, em 1982. Daquela fase também há um boneco do Bob, nome que ganhou no Brasil o namorado da Barbie, Ken, até o nome original ser importado também. A coleção pertence ao estudante do Colégio São José Diego Gonçalves, 18 anos, que deu à exposição o nome “A Boneca Mais Famosa do Mundo”.
Assim como Luiz Varela, Diego passou a colecionar as bonecas Barbie bem depois da infância, igualmente motivado pelo tabu de não ter podido ter, na infância, as bonecas que gostava.
– Desde criança eu gosto de Barbie, mas sempre houve aquele tabu de que menino não pode ter Barbie. Eu assistia aos comerciais na TV chorando de vontade de ter. Conforme fui ganhando mais liberdade e pude, enfim, ter as minhas bonecas, isso até hoje acalma a minha criança interior. O que sempre me fascinou foi poder mexer nos cabelos, trocar as roupas e sapatos. É terapêutico. Tanto que as versões da própria Barbie com a roupa modelada junto ao corpo não têm a mesma graça – comenta.
Dono de 23 bonecas, Diego recorreu a exemplares emprestados de amigas e de familiares para incrementar a mostra, o que ajudou a dar uma diversidade maior de modelos e incluir também acessórios como a casa da Barbie. No caderno de visitas da exposição – cuja capa também traz a Barbie estampada – há recados de amigos e colegas, mas também de diversas pessoas desconhecidas, que elogiam a iniciativa e se dizem encantadas pelas bonecas. Muitas deixam mensagens nostálgicas.
Com ingresso comprado na pré-venda para a estreia do filme Barbie, Diego irá à sessão com a mãe e com o padrasto. Depois pretende voltar a assistir o filme com as amigas. E talvez depois volte para assistir novamente, porque duas vezes serão poucas:
– Nem sei quantas vezes vou querer assistir!
Uma Barbie serrana
Em 2009, Nádia Jaqueline Blauth, moradora de Nova Petrópolis, pôde experimentar o que é ser uma Barbie de carne e osso. Aos 21 anos na época, Nádia foi a modelo escolhida pela Mattel, fabricante nacional da boneca, para uma campanha comemorativa pelos 50 anos da Barbie, com ações em diversos estados do Brasil. Hoje formada e atuando na área de Nutrição, Nádia recorda com carinho daquela época em que realizou o sonho de crianças que jamais imaginariam estar diante da sua personagem preferida.
– Em alguns eventos eu ficava até espantada com a expectativa e a emoção envolvidas quando as famílias levavam as crianças para ver a “casa da Barbie”. Eram cidades pequenas, onde as pessoas não tinham tanto acesso a ações como aquela. Embora houvesse toda a euforia e o carinho dos pequenos, que conversavam comigo como se eu fosse a Barbie de verdade, eu via que muitas mães estavam realizando um sonho que também era delas – conta.
Mãe de dois filhos, uma menina e um menino, a nutricionista considera que os dias e Barbie foram um período de aprendizado. Pôde viajar sozinha de ônibus por diversas cidades do interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
– Havia uma equipe responsável pelo “Caminhão da Barbie”, que chegava dias antes na cidade e fazia a instalação e divulgação do evento, mas eu chegava apenas um dia antes, pois a “Barbie” só aparecia para as crianças no domingo. Eu contava com o suporte de funcionárias da Mattel para compra de passagens e organização de hospedagens, mas viajava e me arrumava sozinha. Foi algo muito transformador, especialmente se considerar a pouca experiência de vida que eu tinha naquela época – lembra.