Engana-se quem pensa que a Rua Vinte de Setembro termina na esquina com a Rua Dr. Bozano, próximo ao Cemitério Municipal de Caxias do Sul. A via segue por mais duas quadras e adentra o bairro Euzébio Beltrão de Queiroz. E é nesse local que fica um muro de 80 metros de extensão, entre o cemitério e a comunidade, que se tornou neste sábado (29) e domingo (30) uma enorme tela de pintura ao receber uma intervenção com cerca de 60 artistas que levaram cor e arte para a entrada do bairro.
A ação faz parte do encontro Sopa de Letra, organizado pelo projeto Mosaico na Quebrada, uma iniciativa do Instituto Samba, do Vielas Espaço Cultural e do Centro Tradicionalista do Graffiti É o Klan. A intervenção no muro do cemitério é liderada pelo artista caxiense Fábio Panone.
Munidos de pincéis, latas de spray e muita criatividade, os grafiteiros começaram a trocar o branco e o cinza do muro pelo colorido dos desenhos, principalmente com os nomes ou apelidos dos artistas — por isso a denominação, sopa de letra. A pintura do muro foi concluída neste domingo (30).
— É a transformação de um espaço praticamente esquecido. É um muro bem velho, bem feio, que nunca teve um tratamento adequado e nós vamos transformar ele em um mural super colorido, com a união de vários estilos de trabalho e mostrando a identidade de cada artista da região — explica Panone.
O objetivo da ação é conectar essa lado pouco conhecido da Rua Vinte de Setembro com o restante da cidade, levando a comunidade a conhecer outros projetos do Mosaico da Quebrada no Euzébio Beltrão de Queiroz.
— É um acesso super importante para o bairro, vai ser um mural que vai transformar o espaço urbano e incentivar as pessoas, convidar elas, para conhecer outros murais feitos pelo Mosaico — conta o artista.
O muro foi uma oportunidade para os grafiteiros expressarem sua arte. O caxiense Davi Matos, 24 anos, conheceu o grafite aos 19 anos. No sábado ele desenhou as iniciais "GRDX", do seu apelido, Gordox.
— Eu quero trazer vida para esse lugar. Pra mim, o grafite é isso. Eu acho o branco uma cor morta. O colorido é a vida. É muito bom contribuir com a cidade por meio da minha arte — explica.
A ação beneficia até para quem está começando no grafite. É o caso de Guilherme Reis, 20, que viu no projeto uma oportunidade de aperfeiçoar o próprio desenho.
— Vim pra aprender. Trouxe o meu pixo para esse evento e o foco é saber mais outras técnicas, encontrar quem sabe muito dessa arte — contou.
Projeto avança agora para a Rua Cristóforo Randon
O Mosaico na Quebrada começou em 2021 com a pintura de uma escadaria na Rua Bento Gonçalves. No ano passado, a iniciativa coloriu casas do Euzébio - em um ano, 46 moradias receberam cor e aumentaram a autoestima dos moradores. Becos e praças dentro da comunidade também receberam intervenção do projeto e foram revitalizadas.
— A ideia de pintar é justamente ligar o bairro com a comunidade. Antes a gente falava que se criavam pontes entre o Beltrão e a comunidade, mas agora estamos acabando com os muros invisíveis da comunidade — explica a arquiteta Jessica de Carli, idealizadora do projeto.
O próximo passo do Mosaico na Quebrada, segundo ela, é revitalizar a Rua Cristóforo Randon, no entorno do Estádio Centenário. Além de pintar o muro que divide a rua com o estádio, a ação levará atividades culturais para a comunidade e melhorar a convivência no espaço.
Ações de saúde
O evento contou também com o apoio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da UBS Cinquentenário, que ofereceu serviços do programa Consultório na Rua. Foram ofertadas vacinas contra a covid-19 e gripe, testes rápidos para detecção de infecções sexualmente transmissíveis, além da distribuição de preservativos. Também foram aplicadas vacinas bivalentes para pessoas com 18 anos ou mais, 12 anos ou mais com comorbidades, gestantes e puérperas.