Sensível, inteligente e com atuações de destaque como a da atriz Alyona Mikhailova, que interpreta a personagem-título, A Esposa de Tchaikovsky (2022) estreia nesta quinta-feira na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul. O filme aborda a relação entre o compositor russo e Antonina Miliukova (1848-1917), cujo casamento, embora com expectativas de felicidade, teria apenas escondido a homossexualidade proibida de Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893), célebre especialmente pelos balés O Quebra-Nozes, O Lago dos Cisnes e Romeu e Julieta, além da Marcha Eslava e da Sinfonia nº 5, entre diversas outras peças clássicas.
A narrativa mantém o foco na trágica história de Antonina, que em vida foi considerada neurótica e ninfomaníaca, chegando a passar os seus últimos dias internada em um hospital psiquiátrico. Oito anos mais jovem que o compositor (interpretado por Odin Lund Biron), Antonina era uma mulher complexa. Obcecada por Tchaikovsky desde antes do casamento, acabou por ter no matrimônio a sua desgraça, uma vez que o casal se limitava a manter as aparências numa sociedade profundamente machista e homofóbica, como ainda é.
Embora fosse jovem, rica, bonita e talentosa, Antonina se dedicou a tentar manter viva uma relação natimorta, acabando por levar uma vida lúgubre, sentimento que o roteirista e diretor, Kirill Serebrennikov (conhecido pelo ótimo filme Verão, de 2018, que conta a história do rock soviético), realça na fotografia cinzenta, na iluminação e no ritmo cadenciado que por vezes chega a testar a paciência do espectador mais agitado (considerando ainda que o filme tem duas horas e 23 minutos).
Para além da narrativa conjugal, o filme premia o espectador com belas cenas musicais, diálogos bem construídos e uma reconstituição competente da sociedade problemática e desigual que era a Rússia czarista da segunda metade do século 19. Muita sujeira nas ruas e muitos mendigos são mostrados no filme, que se passa principalmente em Moscou, com passagens também em São Petersburgo.
A Esposa de Tchaikovsky foi indicado à Palma de Ouro de Cannes no ano passado, sendo derrotado por Triângulo da Tristeza. Entre as reações que despertou da crítica, destaque para a percepção do jornal alemão Die Welt:
“Serebrennikov narra com a maior desenvoltura possível, penetrando profundamente nos abismos da famosa alma russa”.
PROGRAME-SE
O quê: “A Esposa de Tchaikovsky” (Tchaikovsky’s Wife, 2022), de Kirill Serebrennikov
Duração: 143 minutos
Quando: estreia nesta quinta-feira. Em cartaz até o dia 18/6, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min
Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul
Quanto: R$ 16 e R$ 8 (meia entrada)