O encontro de duas mentes tão sensíveis quanto criativas resultou num livro instigante, que os leitores poderão ter em mãos a partir desta quarta-feira. "Extradição - a poética dos deslocamentos", da caxiense Alessandra Rech, nasce de uma provocação de Pepe Pessoa, referência em maquiagem em produção artística, ao sugerir à autora um ensaio fotográfico num antigo casarão de Loreto, no interior de Caxias. A narrativa visual imaginada por Pepe não apenas foi acolhida, como motivou a escritora a mexer no baú de textos e de memórias ainda não escritas, fazendo-a revirar lembranças de relacionamentos _ ou deslocamentos, pela natureza viajante desses encontros na busca do outro.
_ A ideia de extradição e de deslocamento tem muito desse lugar onde o Pepe me colocou para fazer o ensaio. Um lugar meio degradado pelo tempo, com um porão como metáfora do inconsciente, daquele lugar das aflições pessoais. Isso começou a se ligar com as minhas vivências e assim se deu esse processo. É um livro difícil de rotular dentro de um gênero, uma vez que um livro de memórias sugere uma ideia de linearidade, enquanto a autoficção permite transitar com mais liberdade, podendo criar áreas de dubiedade para o leitor. Ao mesmo tempo, existe nele também a narrativa visual, que pertence a outro autor _ comenta a autora.
Nesse fluxo entre a memória e a autoficção, Alessandra cria como protagonista uma mulher dividida entre a busca pelo outro e a de si mesma, tendo o amor como um caminho em que ora se encontra, ora se perde. Entre os episódios românticos que se passam em diferentes cidades do Brasil e também no Uruguai, o relato do que aconteceu se mistura com a autoconsciência da protagonista, suas ilusões e impressões sobre aquelas vivências, como a de quem o tempo todo sabia que a relação escondia um fim já presente em si mesma.
_ A narrativa traz a dissolução que é o encontro com o outro. O apaixonamento, a perda dos referenciais. Nessa busca da alteridade em que a gente se perde, também herda narrativas românticas e ilusões que são socialmente adquiridas. Nisso torna-se difícil separar aquilo que é completude do que é o cumprimento de papéis sociais. Por mais que esteja falando de apaixonamento e dissolução, a obra tenta fazer uma elaboração um pouco libertadora, no sentido de que a protagonista, mesmo tendo morrido de amor várias vezes, percebe o quanto aquelas feridas, muitas delas, são causadas por conta de padrões e repetições, até que possam ser elaboradas e curadas _ reflete Alessandra.
Sexto livro da escritora e professora, "Extradição" traz Alessandra Rech mais introspectiva e interessada em investigar, jornalista que é, os meandros do afeto entre duas pessoas, ao mesmo tempo próximas e distantes, esbarrando menos na longitude geográfica do que na das próprias expectativas.
_ No fundo, não tem um culpado nos desencontros amorosos. São sempre narrativas que se sobrepõem, são duas consciências que parecem convergir em algum momento, mas acima disso são duas trajetórias individuais. A própria soma do ensaio com o texto mostra um pouco disso. Os olhares, as linhas às vezes se cruzam, mas elas são independentes _ divaga a escritora.
PROGRAME-SE
O quê: lançamento do livro "Extradição. A poética dos deslocamentos", de Alessandra Rech.
Quando: quarta-feira, das 17h30min às 21h30min.
Onde: Zarabatana Café, junto ao Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, nº 312, bairro Panazzolo), em Caxias do Sul.
Quanto: o livro estará à venda por R$ 40 (depois, poderá ser adquirido na livraria Do Arco da Velha, pelo mesmo valor)