Um dos principais saldos – positivos – do Oscar 2022 certamente foi a projeção ganhada pelo diretor japonês Ryûsuke Hamaguchi, por meio da escolha de Drive my Car como melhor filme internacional (a obra também concorria em outras três categorias, incluindo a principal da premiação). Quem viu o filme em questão e foi arrebatado pela maneira singular como o diretor esmiúça suas personagens e as conecta com as nuances da passagem do tempo, ficou com vontade de ver mais. Uma oportunidade imperdível se abre nesta quinta (21), na Sala de Cinema Ulysses Geremia, com a estreia de Roda do Destino, recente obra do japonês que chegou ao Brasil neste ano.
O filme é composto por três histórias, com protagonistas diferentes e que são divididas em capítulos. Elas são apresentadas como “contos de Hamaguchi”, detalhe que acentua o caráter autoral da obra. O cuidado com que o diretor estrutura seus textos na tela propõe um brilho muito particular a cenários e personagens aparentemente comuns. No universo de Hamaguchi, no entanto, há sempre um acaso a beijar o curso “sem graça” da vida.
No primeiro episódio do filme, que ganha o nome de Magia (ou algo parecido), o elemento “acaso do destino” reside numa conexão inesperada da personagem principal com um amor do passado. No segundo episódio, Porta Escancarada, um equívoco digital muda o curso de uma história prestes a se desenrolar. Já no terceiro e melhor deles, Mais uma vez, a busca por uma pessoa do passado acaba revelando outra.
Apesar de independentes, as histórias se conectam em alguns aspectos. Talvez o principal deles seja a presença feminina. Hamaguchi é plural com suas protagonistas: temos uma jovem modelo aprendendo a ter maturidade com relação aos próprios sentimentos, uma mãe universitária que expõe sua relação com o sexo de uma maneira natural e sem amarras; e uma mulher mais madura que pretende declarar seu amor a uma ex-colega de escola.
Outra característica presente em todas as histórias é a passagem do tempo. Seja após alguns dias, alguns meses ou 20 anos, as personagens de Roda do Destino imprimem em si as ações – às vezes mágicas – do tempo. O dito e o não dito também são constantes nas histórias. A decisão por não falar algo, ou a necessidade de justamente falar costuram as narrativas. No capítulo Porta Escancarada, a voz da protagonista ganha um papel ainda mais importante, já que os fatos se desenrolam depois que ela narra e grava o trecho de um livro.
Roda do Destino orquestra assuntos como a solidão, a frustração, o amor e o desejo em histórias que arrebatam o espectador. No entanto, a capacidade de Hamaguchi vai muito além da criação de roteiros envolventes, passa pela construção de personagens essencialmente humanos e inesquecíveis, que poderiam estar caminhando pelas ruas de qualquer lugar do mundo neste momento, prestes a esbarrar em alguma surpresa do destino.
Programe-se
- O quê: drama japonês Roda do Destino, de Ryûsuke Hamaguchi.
- Quando: estreia nesta quinta (21) e fica em cartaz até 1º de maio, com sessões de quinta a domingo, às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312), em Caxias.
- Quanto: R$ 16 e R$ 8 (meia).
- Duração: 121 minutos.
- Classificação: 14 anos.