O verbo “construir” é repetido a todo momento pela ativista da causa LGBT+ Cleo Araujo. Não por acaso, está também presente no nome dos dois principais projetos encabeçados por ela em Caxias do Sul: a ONG e a Casa de Acolhimento Construindo Igualdade. São iniciativas que caminham juntas pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A Casa de Acolhimento, inaugurada na cidade há 10 meses, é a única nesses moldes a operar na região Sul do país, mas corre o risco de fechar as portas em função da falta de investimento.
O espaço, localizado no bairro Medianeira, possui sete moradores atualmente, mas já atendeu 35 pessoas desde a abertura. O perfil de quem procura o serviço costuma se repetir, a maioria se afastou (ou foi afastado) da família por conta de sua orientação sexual ou de gênero e se encontra socialmente desamparado, sem trabalho, sem moradia e sem afeto. Na Casa de Acolhimento Construindo Igualdade, eles encontram amparo emocional, psicológico, cursos profissionalizantes, etc.
— Acolher não é só dar teto e comida, é entender essas pessoas e ajudá-las a encontrar um norte na vida. É um olhar de dignidade e respeito para pessoas que poderão ajudar a construir um lugar melhor para todos nós — diz Cleo Araujo, que luta pelas causas ligadas ao público LGBT+ há mais de duas décadas.
A ativista lembra das histórias de dor e resistência compartilhadas por cada morador que já passou pela casa. Conforme ela, essas pessoas são a prova do sucesso do projeto. Uma das moradoras atuais é Fernanda da Silva Borba, 32 anos, natural de Santo Antônio da Patrulha. Ela relata memórias de violência, principalmente com relação ao pai, e diz que encontrou uma família quando acolhida pela casa de Caxias.
— Aqui encontrei tudo que preciso, me sinto em casa, num lugar onde todo mundo carrega a mesma bandeira. Para mim, é uma grande força — diz Fernanda, que vai começar em breve um curso de manicure.
Os moradores podem permanecer por até 12 meses na casa e o valor necessário para manter as atividades gira em torno de R$ 4,5 mil mensais, incluindo despesas como aluguel, alimentação, água, luz e internet. Além da mobilização da sociedade civil. Cleo faz um apelo para que a iniciativa ganhe atenções – e investimento – do poder público. Na Câmara de Vereadores, tramita um projeto que pretende garantir a utilidade pública do espaço.
— Isso tem que virar política pública, eu não estarei para sempre aqui, mas um projeto assim, que transforma realidades, precisa persistir. O que oferecemos aqui é o que eu queria que tivessem feito por mim lá atrás — aponta Cleo.
Arte, documentário e educação
A cultura e a arte permeiam a Casa de Acolhimento Construindo Igualdade. No porão da residência, há, por exemplo, uma rica biblioteca e um espaço para capacitações das mais diversas áreas. Cleo conta orgulhosa sobre as aulas que serão ministradas neste ano pelo artista Rafael Dambros, uma novidade com o intuito de oferecer aos moradores uma ferramenta para se expressarem por meio da pintura, desenho, etc.
Outra voluntária do espaço é a pedagoga e multiartista Márcie Vieira. Além de coordenar o projeto educacional Prepara Enem, que no ano passado resultou na aprovação de duas alunas para bolsas integrais do Prouni, ela também está trabalhando num documentário sobre o espaço. A primeira exibição ocorreu durante uma audiência pública na Câmara de Vereadores. Agora, o objetivo é levar o filme para cada vez mais espectadores, reforçando o papel fundamental da Casa de Acolhimento.
— Sou apaixonada por essa casa e queria que as pessoas também pudessem se apaixonar por algum aspecto dela, que o filme ajude a compreender a gigantesca importância que é a existência desse espaço, que se transforma em lar para tanta gente — defende Márcie.
COMO AJUDAR
- Doações: são aceitas contribuições em qualquer valor para o Pix/CNPJ 06.192.924/0001-13. A casa também recebe doações de alimentos, além de de roupas e calçados (para o brechó).
- Apadrinhamento: você pode ser um padrinho da Casa de Acolhimento Construindo Igualdade pagando um valor de R$ 100 mensais.
- Voluntariado: o espaço está sempre aberto às pessoas interessadas em dar aulas ou realizar projetos profissionalizantes com os moradores. Basta combinar pelo WhatsApp (54) 99161-3078.
- Brechó: localizado no térreo da Casa de Acolhimento, funciona todos os sábados, das 9h às 16h, com peças de roupas vendidas a R$ 15. O endereço é Rua Miguel Muratore, 427.