Depois de ter a memória sobre a história de sua própria família instigada durante um seminário para documentaristas em São Paulo, ainda em 2017, o artista Vinícius Guerra rumou sedento para a casa da mãe, em Caxias. Ele adentrou um quartinho – que boa parte das famílias serranas mantém – onde ficam guardados muitos objetos e documentos antigos. Dias depois, também resolveu fazer perguntas ao tio mais velho sobre o bisavô materno, polonês que se mudou para o Uruguai para fugir da guerra. Iniciava ali uma densa investigação pessoal que daria forma à exposição Poeira das Memórias, viabilizada por meio do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas e com abertura marcada para esta quinta (1º), no Museu do Imigrante de Bento Gonçalves.
Entre os caminhos percorridos em busca do passado da família, Vinícius descobriu sentido num antigo violino que era objeto de decoração em casa e que, agora, integra a exposição Poeira das Memórias.
– Encontrei uma carta do meu bisavô pedindo reconhecimento por ter sido músico fundador da orquestra sinfônica de Montevidéu, no início da década de 1930. O cara não só era violinista como fundou uma orquestra, que ainda existe – orgulha-se.
Também em meio a pastas com documentos antigos, o artista encontrou algumas partituras que estão presentes na exposição por meio da interpretação do músico Beto Scopel. Essa trilha especial também vai conduzir a projeção mapeada que marca a abertura da mostra, às 19h desta quinta. Na fachada do museu, o artista mostrará imagens de grande valor afetivo, algumas delas recuperadas por meio de um tio, aquele mesmo que lhe trouxe pistas preciosas sobre o passado do bisavô no Uruguai, e que o incentivou a um retorno ao país para pesquisar mais.
– Esse projeto ressignifica insights que a memória permite. Eu lembro de meu tio colocar a família dentro de um motor home e viajar no tempo. Ele nos levou para o Uruguai quando a gente era pequeno, mas sem nos contar que era uma viagem sensorial para ele. Nos levou lá para sentir o gosto do doce de leite, da medialuna, queria que a gente sentisse aquilo que ele sentiu quando foi visitar nosso bisa, ainda criança. E ele conseguiu colocar isso de forma inconsciente na gente. E foi essa mesma viagem que eu fiz de volta, comecei a me dar conta, que era uma viagem sensorial também – diz o artista, que esteve recentemente no povoado onde o bisavô viveu.
A projeção de hoje também contará com vídeos enviados pela comunidade. Essas imagens estarão projetadas no interior de um Fusca 1973, herdado pela curadora do projeto, Cristine Tedesco, de seu avô.
– Cruzamos essas histórias e transformamos em histórias coletivas – diz Vinícius.
Além de objetos e videoarte, Poeira das Memórias também inclui linguagens como artes plásticas, fotografias e documentário (primeiro formato com o qual o artista começou a registrar essa investigação). Vinícius comenta que o mergulho nessa viagem ao passado tem o ajudado até mesmo a atravessar o momento atual de pandemia, um papel que a arte pode assumir na vida de todos.
– Acaba virando uma celebração da vida essa exposição, porque são memórias que a gente viveu e que jamais irão se apagar, até as mais tristes. A arte é uma importante ferramenta para ressignificar – defende.
Programe-se
- O quê: exposição Poeira das Memórias, de Vinícius Guerra
- Quando: abertura nesta quinta e visitação até o dia 30 de julho, de segunda a sexta, das 9h30min às 11h30min e das 13h30min às 17h30min (permitida a entrada de seis pessoas por vez, com máscaras e distanciamento).
- Projeção mapeada: nesta quinta, às 19h, na fachada do museu e com transmissão simultânea (também em Libras) pelo Facebook e YouTube Cultura Bento.
- Onde: Museu do Imigrante (Rua Herny Hugo Dreher, 127), em Bento Gonçalves.
- Quanto: entrada franca.
- Informações: pelo Instagram @poeiradasmemorias.