Para a jornalista e atriz Sara Fontana, 25 anos, o amargo período de pandemia e distanciamento social que ainda atravessamos trouxe um olhar mais atento aos idosos. Integrantes do grupo de risco na transmissão da covid-19, muitas pessoas com mais de 60 anos acabaram ficando mais solitárias e isso motivou o interesse de Sara. Assim nasceu a série documental Entardecemos, protagonizada por idosos moradores de Caxias.
– Muitas vezes olhamos para os idosos de uma forma que a gente não enxerga sentimento, só pensamos naquela fase da vida em que surgem mais doenças, que surge a aposentadoria, e que muitas vezes pode ser tratada como improdutiva aos olhos da sociedade. Então, eu passei a repensar isso neste período em que percebi os meus avós sozinhos, sem poder receber visita, sem poder sair de casa, isso acabou me tocando bastante – justifica.
A série foi dividida em cinco episódios, todos já disponíveis no YouTube (abaixo). Os entrevistados são 10 idosos com quem a diretora tem proximidade e até mesmo uma relação de afeto. No vídeo, avós, tios e familiares de amigos compartilham suas vivências e reflexões sobre os temas amor, trabalho, corpo, mente e tempo.
– Pensei em mostrar de que forma essas pessoas nesta fase da vida veem esses temas. Quis tratar de uma forma poética, bonita, essas temáticas que permeiam toda a nossa vida – explica Sara.
A linguagem poética, aliás, está também presente na série com a participação da atriz Helenita Fontana Rodrigues, que costura os depoimentos com a leitura de poemas de Carlos Drummond de Andrade e Alberto Caeiro. Entardecemos também contou com consultoria musical da Heloísa Fochesato e consultoria artística de Gabriela Valer Picancio. O financiamento ocorreu via edital de propostas inéditas da lei Aldir Blanc em Caxias.
Outra motivação da diretora para criar a série foi um dado divulgado em 2019, quando as Nações Unidas informaram haver mais avós do que netos no mundo. O lado jornalista de Sara enxergou então a necessidade de refletir uma fase da vida que tem se tornado mais permanente. Ao mesmo tempo, o lado artista quis poetizar sobre a assunto.
– Sempre tive essa questão de trazer sempre um lado artístico e poético. São temáticas que remetem a uma questão bem humana, mas atreladas a um assunto necessário e que precisa estar no debate. A velhice não pode ser tratada como um tabu.
Para a diretora, filmar a série também foi um processo de aprendizado, no qual a maior lição foi perder o medo da velhice:
– Tem aquela música do Frejat que diz que “toda idade tem prazer e medo”. Acredito que todas as idades podem ter aquele frio na barriga, a surpresa... Aprendi que com o passar do tempo a gente consegue ver cada vez mais a vida como um processo muito bonito.