Um dos espaços culturais mais frutíferos de Farroupilha está localizado num dos prédios históricos mais emblemáticos da cidade, o antigo Moinho Covolan, erguido na década de 1920. Lá, a preservação da memória do espaço — garantida no formato de um museu — se funde à efervescência das manifestações artísticas atuais. Café, shows, oficinas, sessões de cinema comentadas, feiras, brechós e exposições são só algumas das atividades que o prédio comporta atualmente. Mas isso tudo corre o risco de sumir junto com a edificação, já que o prédio ainda não teve seu tombamento aprovado e um leilão está marcado para o dia 18 de fevereiro.
Conforme o secretário municipal de gestão e governo da prefeitura de Farroupilha, Rafael Gustavo Portolan Colloda, o pedido de tombamento organizado pela Associação Cultural do Moinho Covolan está tramitando desde 2019. Assim que a nova administração municipal tomou posse, no início deste mês, o processo ganhou uma revisão de documentos, encaminhamento que pretende dar uma continuidade à tramitação do processo.
— Tem uma exigência formal determinada pela legislação que é a notificação dos proprietários em relação ao interesse do tombamento, e isso não foi encontrado no processo. Então, possivelmente esse seja um dos encaminhamentos a serem realizados por um tombamento, quem sabe, se for o caso, provisório — aponta o secretário.
Um dos planos da prefeitura é a criação de uma comissão que vai cuidar especificamente do caso. De acordo com a chefe de gabinete, Mirna Messinger, o caso do tombamento do moinho tem sido tratado como uma pauta importante desde a campanha do agora prefeito Fabiano Feltrin (PP). Conhecido por suas performances como cover de Elvis Presley, Feltrin já até mesmo se apresentou no palco do Moinho Covolan. Recentemente, o colunista André Costantin escreveu um texto no qual cobra iniciativas do prefeito sobre o caso.
— É uma vontade particular do Fabiano de que o tombamento possa acontecer, visto que é um ponto estratégico, histórico e emblemático da cidade — diz Mirna.
Já o leilão marcado para o dia 18 de fevereiro não tem responsabilidade da prefeitura, é resultado da falta de acordo entre os 16 herdeiros de Antônio Covolan (fundador do moinho). Alguns defendem a preservação do espaço, outros não. No time dos que lutam por manter a função histórica e social do moinho está Gustavo Covolan, responsável pela restauração e transformação do espaço em ferramenta cultural, a partir de 2008. A missão dele e dos frequentadores do moinho agora é sensibilizar a comunidade farroupilhense sobre a importância do local e das atividades que ele abriga.
— O moinho tem uma função cultural, está inserido no meio da economia criativa. É uma bandeira de cultura no coração de Farroupilha — defende Érico Razzera, um dos colaboradores e entusiastas do espaço.
Conforme Érico, uma das alternativas para o caso seria que a própria Associação Cultural do Moinho Covolan assumisse a dívida (o prédio está avaliado em torno de R$ 4,3 milhões) perante aos herdeiros e fosse atrás de parcerias externas para quitar o valor. Enquanto esse acordo ainda não foi firmado, os agentes culturais do moinho buscam aumentar os participantes do abaixo-assinado pelo tombamento do prédio e da lista de sócio amigos da Associação Cultural do Moinho Covolan. Além disso, há um convite sempre aberto para que a população vá conhecer o lugar e as ações por lá desenvolvidas.
— Quem entra aqui, sempre fica tocado — afirma Razzera.