Não se constrói uma carreira musical de 30 anos sem encarar algumas transformações. É por isso que o violeiro caxiense Valdir Verona cita pelo menos outros dois momentos quase tão desafiadores quanto 2020 para sua trajetória como artista e professor de viola e violão: primeiro, a drástica redução das vendas de discos com a ascensão da música em formato digital. O segundo, a popularização do YouTube, que apresentou aos aprendizes de violão repertórios diferentes e tirou os professores de música da comodidade de ensinar as canções popularizadas pelo boom dos álbuns acústicos da MTV.
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– São momentos que nos deixam perdidos no começo, mas o que a gente precisa fazer é pegar o limão e fazer a limonada. E, se possível, uma caipirinha – brinca o morador de Ana Rech.
Foi justamente o YouTube que surgiu como um aliado nos últimos meses. Verona organizou seu canal homônimo na plataforma digital e passou a abastecê-lo com novos vídeos a cada domingo, num trabalho de pesquisa que o fez descobrir materiais que ele sequer sabia que estavam na rede, como participações em programas de TV e shows gravados na íntegra. Outro aliado foram os serviços de videochamada, que permitiram atrair novos alunos à distância. Um deles tem uma história pessoal.
– Estou dando aulas de viola para o compositor nativista Ewerton Ferreira, que sou profundo admirador desde os anos 1980. Tinha músicas dele no meu primeiro repertório. Chega a ser emocionante tê-lo agora como aluno – conta.
Sem fechar as portas para o novo, Verona aproveitou a pandemia para estreitar laços com o ambiente digital. Lançou seu primeiro e-book, com as partituras do projeto “Viola de 9 Cordas”, e prepara o lançamento digital de suas primeiras obras didáticas. A loja virtual, que hoje funciona em sua página no Facebook (facebook.com/violasul), logo irá migrar para um site próprio do artista, que está em desenvolvimento.
Musicalmente, o período também foi profícuo. Tendo como plateia presencial a cadelinha Tucha, ajudou a organizar e tocou em dois festivais realizados online: o Quarentena Violada, que reuniu 11 violeiros de todas as regiões do Brasil, em abril; e o Festival Violas ao Sul, em julho, com apresentações e entrevistas gravadas e transmitidas na página do Violas, quarteto que Verona mantém com os parceiros Oly Jr. Mário Tressoldi e Angelo Primon.
No início de novembro, lançou, com o antigo parceiro acordeonista Rafael de Boni e o cantador de Botucatu (SP) Cláudio Lacerda, o EP digital Hermanos, que já pode ser conferido nas principais plataformas digitais. O projeto, que deve crescer e ganhar os palcos no ano que vem, traz releituras de nomes como Atahualpa Yupanqui, Vitor Ramil e Almir Sater.
– É um trabalho dedicado aos ritmos da América do Sul, como a milonga e o chamamé que estão nestas primeiras gravações. Às vezes acontece, por razão política, de um país virar as costas para os outros do mesmo continente. Cabe à arte mostrar que as fronteiras políticas não são as fronteiras culturais – reflete.
O violonista acrescenta que as parcerias artísticas firmadas na pandemia não pararam por aí, e que novos materiais devem ser lançados em breve. A volta ao palco, com público, já tem data marcada: será no dia 12 de dezembro, às 18h, na Praça Dante Alighieri, na programação da 36ª Feira do Livro de Caxias do Sul.
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