Uma das colunas mestras a que Marshall Rosenberg constrói e sistematiza a CNV é em cima do conceito de ahimsa, termo indiano que significa não violência.
- Ahimsa sempre foi um conceito para você colocar em prática na sua vida pessoal, mas o Gandhi trouxe essa ideia para o coletivo, liderando uma revolução social baseada nisso - explica o professor de yoga da Prakriti, Vinícius Santos Rocha, 43.
Mahatma Gandhi (1869-1948) liderou o movimento para que a índia pudesse tornar-se independente da coroa britânica. Sua ação torna-se mais enfática a partir de 1920, por conta do Massacre de Amritsar, quando soldados britânicos mataram centenas de indianos que protestavam pacificamente.
- O Gandhi optou por essa via da não violência, com diálogo e resistência, mas sem armas. Ele ensinava as pessoas a fazerem as suas roupas e a retirarem o sal do mar, ao invés de comprar estes produtos dos britânicos. Porque o tecido e o sal eram produtos que os britânicos dominavam. Era um a ação de independência e ao mesmo tempo de resistência - justifica Rocha.
Ahimsa, cujo ensino intrínseco é não gerar dor e sofrimento para outros seres, é uma das colunas da filosofia hindu, observa Rocha, que insere outro termo indiano complementar à não violência, que libertou indianos do império britânico e inspirou Rosenberg. Rocha cita o ensino do sathya, que acaba por ser o fluxo contínuo de pensamento em si e no outro, a que se refere Rosenberg na CNV.
- Sathya é traduzido como a verdade. A verdade para o hinduísmo não é absoluta. A verdade é quando você unifica pensamento, palavra e ação. Entre ahimsa e sathya, um conceito reforça o outro. Nas escrituras se diz: não adianta você expressar uma verdade se você está machucando alguém. Para o hinduísmo, se isso ocorrer não é uma verdade. Mesmo que seja algo autêntico, mas se está gerando sofrimento para uma pessoa, no hinduísmo essa não é uma verdade (sathya). Porque estará infringindo o conceito de não violência (ahimsa) - ensina Rocha.
Daqui para a eternidade
Fala-se tanto em crises macroeconômicas, mas há outra que interliga todas as pessoas. Uma crise de identidade social.
- Estamos em uma crise, a tecnologia trouxe coisas novas que não sabemos lidar ainda direito. É muita informação, que a gente recebe e as pessoas se deixam influenciar. Mas como as pessoas não se escutam, se fecham em suas posições. Hoje em dia, todos têm necessidade de emitir opinião e comentar postagens nas redes sociais. Vivemos em um conceito individualista. Quem importa sou eu e a minha família - constata Rocha.
Como atravessar essa maré e retomar o caminho do diálogo?
- Meu bem-estar tem que se relacionar com o bem-estar da minha comunidade. Essa é a consciência que deveríamos ter.
Rocha vai ainda além e sugere um mergulho na cultura oriental como forma de ampliar os horizontes para rever quem somos, para onde vamos e de que forma estamos caminhando por esta jornada.
- A meditação e a prática do yoga são muito importantes para dar às pessoas um preparo emocional para que não sejam tão reativas. Porque, para a filosofia hindu, isso aqui tudo é uma grande ilusão. Mas quem está buscando o autoconhecimento, o que existe de verdade é algo que vai muito além. Você sabe que isso é transitório e ilusório, que as coisas vêm e vão.
Adeptos ou não do hinduísmo, o ponto central é que a humanidade está doente e precisa voltar para o início. E o começo de tudo é simples e básico: relacionar-se melhor consigo e com o outro. Que estes ensinos possam suscitar mais do que discussão de pontos de vista, mas pontes entre os que se encontram em lados opostos.