Cozinhar é uma das maneiras mais sinceras e bonitas de demonstrar afeto, não há quem duvide. É como dar um abraço apertado, oferecer colo ou fazer um cafuné. Preparar um bolo, então, é receita para relembrar o café da tarde recheado de amor na casa da avó, da mãe ou de uma pessoa muito especial.
Essa delícia tão tradicional tem se tornado cada vez mais popular em confeitarias pelo país e muito disso se deve à Maria da Paz, personagem interpretada por Juliana Paes na novela das nove, A Dona do Pedaço. Afinal, mesmo aqueles que não acompanham diariamente a história da humilde confeiteira já devem ter ouvido recentemente algo relacionado à ela e a seus bolos.
Apesar de ser conhecida como a cidade do galeto, da polenta e das massas, Caxias do Sul também tem suas donas e donos do pedaço, que levam fatias de carinho à casa dos caxienses.
O Clau da Paz
Apaixonado por bolos desde pequeno, Claudemir Ribeiro (mais conhecido como Clau) decidiu transformar sua vocação em um negócio: há oito meses montou a Nesclau Sabores— trocadilho feito com seu nome e o achocolatado Nescau—, confeitaria especializada em bolos caseiros. E essa afinidade toda com a cozinha foi despertada nele ainda na infância, ao menos é o que conta a mãe, Maria de Fátima Góes, de 62 anos.
— Desde pequeno ele já gostava, estava sempre metido ali na cozinha comigo. Sempre teve gosto pela cozinha. Ele me ajudava muito em casa. Quando saia, ele fazia surpresas para mim. Me esperava com um bolo ou algo assim — diz orgulhosa, Maria de Fátima.
Simpático, Clau não esconde que a mãe foi responsável por lhe ensinar quase tudo do que sabe até hoje e por lhe passar as receitas de família, que deixam seus bolos ainda mais especiais. A carreira do jovem de 25 anos como confeiteiro começou há dois anos, quando trabalhava como recepcionista em um estúdio de cabeleireiro. Foi ali que Clau começou a vender pedaços de carinho e a formar sua clientela.
— Quando comecei a vender não pensava no retorno financeiro, fazia por amor mesmo. Devo tudo aos bolos, eles me deram uma profissão, uma empresa e uma marca. Lembro que no início as pessoas me pediam “tu tem bolo de quê?” e eu dizia “de laranja”, porque era o único que eu fazia e ficava perfeito naquela época. Hoje ele é meu bolo da sorte, porque me lembra de como tudo começou. De todo esse tempo que eu estou fazendo bolo, digo que não trabalhei nenhum dia. É um prazer vir fazer aquele bolinho. Sou muito grato por ter encontrado tão cedo minha vocação. Tem cliente que me chama de nova Maria da Paz ou de Clau da Paz, acredita?— diverte-se.
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Atualmente, o confeiteiro vende de 15 a 20 bolos por dia, dependendo das encomendas que recebe. Segundo ele, o segredo para tanto sucesso se deve ao preparo caseiro, já que os confeitos não são preparados com misturas prontas e estão sempre fresquinhos.
— Eu trabalho com encomendas, então faço questão de entregar o bolo quentinho, com cheiro de bolo. Meu objetivo é que a pessoa se lembre da infância, se sinta acolhida e abraçada. Cozinhar para mim é isso— afirma Clau.
Para além disso, dona Maria de Fátima, reforça:
— O bolo tem que fazer com amor, minha mãe já falava. Tem que preparar tudo depositando carinho cada vez que você vai bater a massa, não só fazer por fazer. Se for assim, a massa não cresce e o bolo não tem o mesmo gosto.
Doce oportunidade
A vida de Mariana Pruinelli, 32 anos, sofreu uma transformação há quase cinco anos. Após ficar desempregada, ela encontrou nos bolos uma oportunidade de ganhar algum dinheiro e conseguir pagar as contas. Deu tão certo que até hoje Mariana não mudou de área, mas se especializou. Foi assim que surgiu a Divino Confete.
— Comecei na área para driblar uma situação ruim e sigo até hoje no ramo. Logo que comecei a fazer os bolos, meu namorado me ajudava e levava eles para vender na universidade. Até hoje ele é meu parceiro. Meu negócio foi dando certo e eu fui buscando me capacitar cada vez mais. Agora, além dos bolos, faço docinhos e salgadinhos também — explica.
Saudosa, a cozinheira revela que muitas de suas receitas de bolo vêm de família, principalmente das avós. Atualmente, Mariana trabalha somente por encomenda, chegando a comercializar mais de 15 bolos por semana. Sobre a influência que a novela e Maria da Paz têm nas vendas, avalia:
—Dá para dizer que as vendas melhoraram desde que a novela começou. O engraçado é que eu nem assisto, mas onde quer que eu vá ultimamente as pessoas me chamam de Maria da Paz — conta entre risos.
Uma nova rotina
Há quase 10 meses a vida de Cléo Machado, 37 anos, está intimamente relacionada ao mundo das massas, formas e coberturas. Ela iniciou sua passagem na Varanda Bistrô — loja que tem os bolos como um de seus principais produtos — como atendente, mas com a saída de uma colega viu sua rotina se transformar.
— A antiga confeiteira saiu e essa oportunidade acabou caindo nas minhas mãos. Então agora eu sou responsável por preparar os bolos. Eu cozinhava o básico em casa, então, no início foi um pouco difícil, porque eles não ficavam como eu queria. Hoje, as coisas estão dando certo e eu sou muito grata por ter tido essa chance. Pretendo me especializar logo.
Diariamente, ela prepara oito bolos e, assim como os colegas de profissão, grande parte das vendas é fruto de encomendas. Sobre a nova vida como confeiteira, afirma:
— Cozinhar para mim é algo muito especial. Eu gosto muito, cozinhar é lembrar da minha mãe, que foi quem me ensinou. É tão bom tu preparar algo e as pessoas se sentirem bem em comer. Tudo que tu faz bem feito e coloca teu empenho, não tem como não dar certo. É muito recompensador.