No Almanaque do último final de semana (17 e 18 de agosto) foi abordado "Quem são e o que pensam os conservadores caxienses". Nesta edição, será revelado o pensamento de quem tem uma visão mais progressista e à esquerda.
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Mais do que nunca, Antônio Leite entende que a sociedade precisa do pensamento progressista. Historiador e professor, atualmente é o diretor da Escola Municipal Ramiro Pigozzi. Acredita que toda transformação social passa pela educação e para referendar esse conceito, cita Paulo Freire: "A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo".
— O que me entristece do ponto de vista de alguém que estuda a história do Brasil, e que acompanha as notícias, é ver que algumas pessoas dizem que não querem ideologia. Isso não existe. Ideologia vem da palavra ideia. E todo mundo tem uma ideia sobre alguma coisa. A ideologia está aí para todos os gostos. Ou seja, não há nada sem ideologia — defende Antônio Leite, 53 anos, casado e pai da Luísa, nove anos.
O historiador entende que as pessoas deveriam procurar conhecer mais sobre a ditadura militar, porque pode revelar muito sobre um período de cerceamento das liberdades, como espera que não venha a ocorrer no bolsonarismo. Antônio entende que minimizar o que chama de "atrocidades da ditadura" como perseguições, prisões e torturas, é um plano da direita.
— Como fazer a propaganda de um projeto de governo que faz a defesa de tantas atrocidades, é difícil, né? Quando trabalhei no Arquivo Histórico Municipal, fizemos uma série de entrevistas com presos do regime militar. As entrevistas estão lá à disposição para as pessoas conhecerem a realidade. Eu sempre digo às pessoas, leiam o livro Brasil: nunca mais. Se as pessoas conseguirem ler e não se tocarem, aí perdi a esperança — argumenta.
MODA CONSERVADORA
— Quando eu li a reportagem sobre os Conservadores caxienses (Almanaque dos dias 17 e 18 de agosto, veiculado no jornal Pioneiro), eu lembrava do livro da Loraine (historiadora Loraine Slomp Giron), As Sombras do Littorio — O Fascismo no Rio Grande do Sul. Se a gente voltar alguns anos atrás, era feio ser de direita, era feio ser conservador. O conservadorismo sempre foi forte na nossa cidade, não é algo novo. Agora, está na moda ser conservador.
EDUCAÇÃO ELITIZADA
— Estudei na escola pública desde a primeira série. Na primeira série, eu tinha dois colegas negros, e os dois eram de famílias brancas, porque eram adotivos. Como não era obrigatório mandar o filho para a escola, muitos não iam. As mudanças da educação são muito significativas. Eu venho de uma família em que fui o primeiro a ter curso superior. E quando falo família, estou incluindo todos os meus primos. Atualmente, os filhos dos meus primos, na sua maioria tem curso superior ou está cursando. Não era algo comum na minha realidade.
INTOLERÂNCIA
— Estava na fila do supermercado e o cara, à minha frente, pediu para moça 300 gramas de queijo. Ela colocou as fatias na balança e disse: "Pode ser 308g?". O cara olhou pra ela e respondeu: "Eu pedi 300 gramas!". Bah, aquilo me revoltou. E eu disse pro cara: "O senhor, na sua idade, é um mal educado. Vê se isso é resposta".
LULA
— Não dá pra negar que o Lula hoje, por tudo que tem passado nos últimos tempos, tem uma simbologia muito grande. O Lula não foi morto até agora, porque ele vira um mártir, vira um Che Guevara. Seria muito fácil, porque seguidamente alguém enforcado na cadeia, foi assim na ditadura.
ALIANÇAS
— Assim como na época da ditadura, foi preciso ampliar o leque de alianças para vencer. Da mesma forma, para vencer esse movimento à direita, teremos de ampliar esse leque, teremos de pensar em uma aliança maior.
BOLSONARO
— Se a eleição presidencial fosse hoje, teríamos um resultado muito diferente. Não brigo com eleitor do Bolsonaro, porque nas próximas eleições ele podem votar na esquerda. Os regimes muito radicais não se sustentam por muito tempo. Tenho a certeza de que isso é um momento, e em breve vamos ter no Brasil o que está acontecendo na Argentina, que é o revés dos conservadores.
DESUMANIZAÇÃO
—Cada vez estão desumanizando o ser humano. Como é que tu aceitas que alguém pode ser morto, porque fez algo que tu não concordas? Por exemplo, a violência dos estádios de futebol tem muito a ver com os processos de desumanização.
CONTRASSENSO
— Quando eu faço a defesa de que posso educar meus filhos em casa, é porque não estou preocupado como os outros serão educados. Então, isso é um contrassenso da sociedade. Porque quando tivermos as crianças e adolescentes sem educação, as pessoas vão reclamar do assalto, do morador de rua, das questões sociais que estão por aí e são permeadas de alguma forma pela educação.
DISCURSO
— Vivenciamos um momento em que é muito difícil ter um posicionamento, nem falo de esquerda, mas mais liberal até. Tanto é que muitas figuras em nível nacional, artistas, músicos enfim, que nunca tiveram posicionamento de esquerda, passaram a adotar um discurso mais de esquerda, porque estão sendo atacados por sua opção sexual ou pela orientação religiosa.