Um dos endereços mais nevrálgicos de Caxias do Sul está prestes a ganhar um respiro de cor e expressividade, ao melhor estilo pop art. Isso porque um dos paredões que cercam o estacionamento Triparking, na Rua Garibaldi, serviu de tela para os traços criativos de Fábio Panone Lopes, artista caxiense que já deixou sua marca em diversas cidades da América Latina, Ásia, Europa e Estados Unidos.
O mural, que começou a ser produzido na última sexta-feira (14) e fica pronto nesta terça (18), traz a figura de um guardião indígena rodeado de elementos da flora e da fauna: dos olhos atentos de uma coruja às cores exuberantes das araras e dos frutos do guaranazeiro. Ou seja, uma obra capaz de transbordar brasilidade e alertar para a urgência de repensarmos o modo de vida urbano, onde a monotonia cinza do asfalto e do concreto se sobrepõe à poética da natureza e da arte.
— Como a gente está no coração da cidade, a ideia foi trazer um pouco da natureza, como se ela estivesse reconquistando seu espaço. Eu grafito há 20 anos e nunca tinham me convidado para fazer um painel dessa dimensão em Caxias, com total liberdade para criar, para transformar em arte o que antes era uma fachada cega — disse Panone, com as roupas cobertas de tinta, durante um breve intervalo no trabalho para atender a reportagem na manhã desta segunda-feira (17).
E os números do mural impressionam. Realizado em parceria com o também grafiteiro Henrique Padilha, o trabalho de quatro dias demandou mais de 60 litros de tinta e 250 latas de spray. Tudo isso para transformar em painel artístico um paredão com aproximadamente 14 metros de altura e 20 de largura — uma superfície de 280 metros quadrados.
Outro detalhe também chama atenção: em meio à recente polêmica sobre a ocupação dos espaços públicos (vale lembrar a detenção do artista Lucas Leite enquanto grafitava a personagem Elichat na Praça das Feiras), a ideia de trazer mais cor à região central partiu do proprietário do estacionamento. Amigo e admirador de Panone, o empresário Diego Oselame diz que a repercussão que o painel gigante vem ganhando nas redes sociais “mostra como a cidade está carente e sedenta por mais arte”:
— Quando eu assumi o estacionamento, era um lugar feio e frio, só com cascalho e concreto. Então comecei a pensar em formas de dar mais vida ao cenário. Como o Fábio é um grande amigo e sou fã da arte dele, fizemos essa parceria. Acho que também é uma maneira de trazer um colorido à cidade, que acabou se tornando uma selva de concreto — reflete o empresário.
E a parceria artística não acabou: a ideia é que os muros laterais do estacionamento também recebam as cores do grafiteiro. As novas obras de arte serão criadas com a chegada da primavera, quando as condições climáticas favorecem trabalhos ao ar livre.