Fechou o verão. O Carnaval é agora só uma sombra da alegoria do que foi um dia. É tempo de trabalho na Pérola das Colônias. Para tudo! Quem foi que disse que todo Carnaval tem seu fim? Não pelo menos no Instituto SAMbA.
Nesta quinta-feira, às 19h, ocorre por lá o encontro Tem Samba na Arte: Ensaios Sobre Samba, Bossa Nova a Pintura Brasileira. O nome tem grife de arte contemporânea, mas o tom da coisa é na vibe do ziriguidum, numa triangulação com arquitetura e artes plásticas.
Tem Samba na Arte conta com a participação do professor, pesquisador e artista plástico Thiago Quadros, do arquiteto e urbanista Maurício Rossini, e do músico e educador Diego Lunelli. A mediação é do jornalista Carlinhos Santos.
Tiago Quadros tem sua vida ligada às artes plásticas, mas é por assim dizer um pesquisador afetivo do samba e da bossa nova. Nasceu daí o interesse em relacionar essas duas manifestações artísticas.
– Mesmo em Caxias, músicos, pintores, bailarinos, e o pessoal do teatro vivem juntos. É inerente da arte, desde as manifestações mais primitivas, é a gente que muitas vezes divide –analisa o artista plástico.
É essa simbiose, essa relação de amizade e trocas artísticas que produz a diversidade cultural, acredita. Para endossar esse ponto de vista, Quadros recorda amizades artísticas entre o músico Dorival Caymmi, o artista plástico Carybé e o escritor Jorge Amado. Essa mesma sintonia e diálogo gerou, na visão dele, o símbolo mais icônico desse recorte a que pretendem analisar.
– É complexo dizer qual obra é icônica nesse recorte. Mas acredito que a obra Parangolé, de Hélio Oiticica, é um marco. É uma pintura interativa, em movimento, que mistura dança e libertação do corpo. A obra foi criada numa parceria com a Estação Primeira de Mangueira – ensina Quadros.
A arquiteta e diretora do Instituto SAMbA, Jéssica De Carli, antecipa qual o objetivo desses encontros que se seguirão ao longo do ano.
– Nossa intenção é abordar temas relacionados ao sincretismo cultural brasileiro e suas conexões através da arte, em encontros a cada dois meses.
Mara De Carli, que não é só a mãe da Jéssica, mas artista plástica de mão cheia e produtora cultural do SAMbA, prefere, ao tratar do instituto, a provocação que tem tudo a ver com brasilidade:
– Depois do carnaval vamos começar o ano sambando! –brinca, cantarolando: “São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração”.
No final das contas, mesmo distante do centro do país e próximo da milonga, do pampa espraiado de miragem bucólica, o sul é ainda o Brasil, com seus contrastes. E por isso mesmo, justifica-se o projeto do Instituto SAMbA, porque provoca o choque sempre bem-vindo de ideias. E dê-lhe samba, com ou sem pandeiro, porque a arte não pede passagem.