Chegamos a 21 de janeiro e este 2019 já se configura em realidade palpável, com o novo ciclo das mesmas velhas coisas sazonais a nos esperar, intercaladas pelo suceder das novidades específicas que haverão de se apresentar e exigir novas posturas, novas formas de ver, de ser e de agir, tal como acontece ano a ano na vida de cada um de nós, desde que viemos ao mundo. Algumas efemérides importantes já se acomodam no calendário ao longo dos meses, aguardando o momento certo de serem lembradas e celebradas, como, por exemplo, o centenário da assinatura do Tratado de Versalhes, ocorrida em 28 de junho de 1919, que solapou o encerramento da Primeira Guerra Mundial. Felizmente, existem eventos menos belicosos a serem evocados neste 2019, e trataremos de um deles no parágrafo a seguir.
O universo da Poesia vivenciado pela Serra Gaúcha e pela Capital do Estado encontra, em 2019, um ano importante para recordar a vida (breve) e a trajetória poética (profunda e significativa, apesar de pouco conhecida) de uma das expressões artísticas mais importantes já florescidas em solo gaúcho. Daqui a exatos dois meses, em 21 de março, o calendário marcará a passagem do primeiro centenário de morte da poeta Vivita Cartier, falecida em 1919 no distrito de Criúva (então ainda pertencente a São Francisco de Paula) e sepultada naquela localidade, no Cemitério do Pontão. Seu túmulo segue, até os dias de hoje, recebendo flores e cuidados por parte de anônimos que se dedicam ao cultivo da memória da escritora porto-alegrense (nascida em 12 de abril de 1893) descendente de imigrantes tiroleses e franceses, que legou, em seus curtos 25 anos de vida (morreu poucas semanas antes de completar 26), “um punhado de versos em cada mão” (parafraseando a escritora), o amadrinhar de cadeiras em duas academias literárias no Estado e a força perene de um mito.
Apesar do passar das décadas e do fato de não ter casado e nem deixado herdeiros diretos, Vivita Cartier exerceu e segue exercendo fascínio sobre muitas almas posteriores a ela que a identificam com o poder transformador existente em um ser que dedicou a vida ao fazer poético. Ao longo de 2019, sobrarão razões para celebrar a memória da poeta falecida há um século, naquela data que, coincidentemente (ou não), antecipava em 80 anos o estabelecimento oficial, pela Unesco, do dia 21 de março como o Dia Mundial da Poesia. Eventos distantes entre si, que acabam rimando por obra da verve poética do Destino. Pois, apesar dos pesares, a Poesia segue insistentemente soprando ao vento, para quem se dispuser a sorvê-la. Ainda bem!