Fazia tempo que elas não se manifestavam, achava até que haviam me esquecido ou, na melhor das hipóteses, me perdoado pelos erros do passado, só que não: ela seguem vivas, vívidas, na ativa e atiladas, como sempre, e, ao que tudo indica, sustentando um renovado asco mesclado com ojeriza pelos textos de segunda que pratico aqui neste espaço já há quase uma década, indiferente ao fato, tantas vezes externado por elas, de que não possuem mais o fôlego necessário para acompanhar do início ao fim a extensão quilométrica de alguns dos períodos que me ponho a escrever, permeando intercalações com vírgulas, traços e ponto-e-vírgulas, que lhes sacrificam os pulmões e lhes desatinam a capacidade de compreender que diabos, afinal, eu queria dizer desde o começo da frase.
Nem sempre escrevo assim. Mas não adianta: as senhorinhas que se reúnem às tardes de sexta-feira para tomar chá e desancar minhas crônicas seguem firmes no propósito de um dia conseguirem me emendar, e, atualizadas tecnologicamente como são, enviaram-me um whatsapp preocupante, dia desses.
Em poucas e certeiras palavras, informam estarem desasadas com a insistência com que eu abordo aqui, nestas mal-digitadas linhas, a questão (segundo elas, irrelevante e desprovida de interesse sociológico e antropológico) da temperatura ideal para servir e degustar o sagu, essa especiaria típica regional que a maioria dos nativos afirma apreciar em condições quentes ou mornas e que, na prática, é oferecido nos restaurantes frio ou gelado, bem ao gosto explícito deste escriba portador de crônicos maus gostos culinários, temáticos e redacionais. Nas entrelinhas do whats, explicitam um convite (que logicamente não aceitarei, pois que o medroso morreu mais tarde) para comparecer a uma degustação às cegas de sagu, quando disporão à minha frente quatro tigelas repletas com o doce e eu serei instado a definir qual é a que contém sagu frio, qual a que tem sagu gelado, a de sagu morno e a com sagu quente. Tudo muito fácil, mas desconfiei da parte em que elas exigem me colocar uma venda nos olhos. Eu, hein!
Temeroso e prudente, penso em banir o tema do sagu no próximo ano, voltando minhas atenções a questões menos polêmicas como o nível de textura adequado para a obtenção de um bom Chico balanceado ou a quantidade aceitável de grumos na produção de um creme branco razoável. Um bom cronista de segunda sempre é capaz de encontrar temas relevantes que não afetem sensibilidades e papilas alheias. Feliz Natal e saborosos panetones (de chocolate ou com frutas cristalizadas?) a todos!