Um astronauta tentando respirar numa atmosfera que não é a sua, um personagem animado com a cabeça agigantada e o semblante triste, uma melodia melancólica ao violão... Todos esses elementos ajudam a construir na telona o universo particular de Yonlu, nome artístico escolhido pelo porto-alegrense Vinícius Gageiro. A história real do jovem ganhou destaque em 2006, quando ele tirou a própria vida contando com suporte de fóruns de discussão na internet. O longa do diretor Hique Montanari, que ganha sessão comentada em Caxias do Sul nesta quarta-feira (12), remonta essa trajetória guiando-se principalmente pelo legado artístico deixado por Yonlu - que inclui ilustrações, fotografias, textos e músicas —, e trafegando de forma poética pela obscuridade que o atormentou de forma arrebatadora.
De forma não-linear, o roteiro tenta construir um perfil eclético do jovem Yonlu utilizando diferentes linguagens. O diretor Hique Montanari utiliza desde animação até performance de dança para levar ao espectador um retrato imaginado sobre o turbilhão de ideias que habitava a mente do protagonista. Da mesma forma que apresenta momentos mais sensoriais, sem ligação prévia entre si, o filme também tenta remontar com clareza o caminho trágico percorrido pelo jovem, de forma a apresentar sua história a quem não a conhece. Estão representados no filme, por exemplo, o psicólogo (Nelson Diniz) e os pais do garoto (Leonardo Machado e Liane Venturella), personagens que facilitam essa compreensão.
O ambiente virtual era onde o personagem parecia existir de forma mais contundente — tanto como artista em ascensão quanto como um garoto frágil e depressivo. A construção estética do "lugar" que compactuou e contribuiu para o triste desfecho do personagem exigiu criatividade da produção. A saída foi colocar o jovem perdido em meio a figuras sem rosto que o guiam por caminhos pesados. Nessas cenas, prevalecem os diálogos em inglês, já que era assim que Yonlu se comunicava nos fóruns de discussão sobre suicídio. A maior parte das frases foram mantidas como elas foram escritas nesse ambiente, o que confere um tom bastante denso à narrativa.
Gaúcho radicado em São Paulo, Thalles Cabral foi a escolha acertada para dar vida ao protagonista. Principalmente por conta da sensibilidade musical do ator que, em 2017, lançou seu primeiro disco, Utopia. A trilha, construída com canções originais deixadas por Yonlu é um ponto muito forte do filme, orquestrando com exatidão a doçura e o caos presentes na personalidade do personagem. A ótima obra musical de Yonlu, aliás, foi lançada postumamente em 2007 e está disponível no Spotify — com canções autoexplicativas como Humiliation e Suicide Song.
PROGRAME-SE
:: O quê: longa Yonlu, de Hique Montanari. A sessão será seguida de bate-papo com Rafael Vebber, do Núcleo Audiovisual (NAV), e Caetano Oliveira, psiquiatra parceiro do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Caxias do Sul.
:: Quando: nesta quarta (12), às 20h.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais).
:: Classificação: 14 anos.
:: Duração: 90 minutos.