O que era irrelevante no início começou a virar motivo de briga. Aos poucos, foram se afastando, as barreiras crescendo e a tão temida crise no relacionamento se instalou. Mas o amor construído não era estável? Em uma análise rápida, até parecia que sim, mas a verdade é que não é fácil desenvolver um “amor sustentável”.
A combinação dessas duas palavras é o norte do novo livro de Lígia Guerra: Amor Sustentável – Como Lidar com o Ciúme, a Dependência Emocional e o Excesso de Cobranças para Construir um Relacionamento Saudável.
Com quase duas décadas de atuação na psicanálise, Lígia – autora de Mulheres às Avessas – dá dicas de como ir ao encontro dessa relação duradoura, equilibrada e feliz. Confira:
Atenção ao piloto automático da relação
Por meio dos meus atendimentos, percebi que existem comportamentos comuns entre aqueles que desconstroem o amor, como a banalização dos sentimentos do outro, o tanto faz, a perda da conexão emocional. Quando a casa se torna um dormitório, os parceiros deixam de ser um casal e tornam-se sócios das contas e das frustrações que ambos passam a alimentar. Quando deixam de saber e de sentir as emoções um do outro. Eles não se amam, mas também não se odeiam, são pseudoamigos e pseudoamantes. Diante disso, o vínculo míngua.
Não ignore a crise
A crise é como um sintoma no corpo, avisa que precisamos prestar atenção, fazer um exame ou até mesmo buscar ajuda para tratar de um problema físico ou de uma doença. Em um relacionamento, acontece da mesma forma. A crise é um sintoma que aponta para uma direção da vida que precisa de cuidados e que sinaliza: “Prestem atenção!”. Mudem algo, façam o diagnóstico, não ignorem esse problema.
Aprenda com a crise
Uma das grandes dicas que dou é investir no “fôlego”, naquele momento que antecede o grito, a impulsividade e a agressividade. Palavras vomitadas pela vontade de ter razão a qualquer preço, no momento de um desentendimento, devastam em segundos afetos que demoraram anos para ser construídos. É preciso ter maturidade para falar, ouvir e compartilhar sentimentos incômodos, jamais em um momento em que o “sangue ferveu”. Eu sei que é difícil e parece ilusório, mas não é. Garanto. Ao longo da vida, aprendemos muitas coisas, a caminhar, falar, calcular, raciocinar, a nos comunicar por outros idiomas, então por que acreditamos que com o amor será diferente? Teremos que aprender a tratá-lo com respeito, inteligência, sabedoria e educação.
Não seja sócia do seu parceiro
Em qualquer aspecto da vida, os excessos são prejudiciais e, quando o assunto é o amor, isso se potencializa. Os “comportamentos de folga”, como acreditar que os cuidados da casa, das finanças, da educação dos filhos, do planejamento das férias e da nutrição emocional do amor, que deveria unir o casal, é responsabilidade apenas de um dos parceiros. A relação se torna hierárquica: “Eu mando e você faz”.
No outro extremo, estão as pessoas que não cobram, mas também não criam um vínculo afetivo. Nesse caso, um parceiro ou ambos tornam-se figurantes dentro de um formato que parece um relacionamento, mas está muito longe de ser. Falta o “saber” sobre o outro, sobre seus sonhos, expectativas, desejos e frustrações. A relação se torna uma sociedade: “Pagamos contas, cuidamos dos filhos e da casa, mas pouco sabemos, expomos e compartilhamos das emoções, das angústias, dos desejos, bloqueios e conquistas”.
Reflita
Conseguir perceber as nossas mudanças emocionais, enquanto elas acontecem dentro de nós, e tomarmos posse delas é para poucos. Isso evita desgaste, amarguras, frustrações e sentimentos de baixa autoestima. Essa mesma percepção em relação aos sentimentos do parceiro nos torna mais competentes emocionalmente e menos reativos nos momentos de conflitos. Quantas vezes um dos parceiros é grosso, mas na verdade ele usa isso como defesa para não demonstrar o medo do abandono? Quantas brigas bobas poderiam ser sanadas facilmente com um abraço, pois elas eram apenas um pedido por atenção? Quantas vezes uma crítica denuncia um momento ruim daquele que ofende? Vejo isso no meu consultório todos os dias, uma profunda inabilidade dos pacientes em aceitar em si mesmos muitas características e devido a isso se blindarem na relação.
* Escrito por Nathalia Carapecos (nathalia.carapecos@revistadonna.com)