A adolescência sempre rendeu registros dos mais diversificados no cinema. No drama alemão Os Invisíveis, o diretor Claus Räfle usa esse recorte jovem como partida para retratar uma das passagens mais sombrias da história: a Segunda Guerra Mundial. O longa estreia nesta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia com roteiro partindo das memórias reais de quatro judeus que enfrentaram o Holocausto vivendo clandestinamente numa Berlim sitiada pelos nazistas. Em comum, todos personagens retratados carregam o fato de terem enfrentado os horrores da guerra com menos de 20 anos, o que concede um olhar mais esperançoso, e por vezes até terno/doce, ao período. Mesmo assim, está longe de ser um filme leve, obviamente.
Os Invisíveis é o primeiro longa de Räfle, mas carrega muito da veia documental do cineasta, conhecido por encabeçar vários registros nesse formato para a TV alemã. A própria semente do roteiro nasceu enquanto Räfle filmava uma produção documental sobre um lugar de Berlim que era frequentado pelo alto escalão dos oficiais nazistas. Sem esperar, o cineasta acabou descobrindo a história de uma mulher judia que sobreviveu à Segunda Guerra escondida sob documentos falsos, trabalhando como empregada doméstica. A partir daí, ele deduziu que a cidade deveria guardar muitas outras histórias como aquela. Eram histórias de cinema, obviamente.
Depois de encontrar personagens sobreviventes que tinham experiências inacreditáveis para compartilhar, o cineasta começou a filmar os depoimentos da maneira documental clássica: câmera parada, carão na tela. Então surgiu a necessidade de incrementar a produção e nasceu o longa que os caxienses poderão ver a partir de hoje. De fato, o melhor de Os Invisíveis é justamente seus 80% de dramatização, com boas atuações, bom ritmo e boas reproduções da Berlim dos anos 1940 (ainda que longe da robustez das grandes produções que costumam retratar o tema). As entrevistas poderiam facilmente ser um extra do filme, já que suas inserções ao longo da narrativa por vezes quebram o envolvimento do espectador com cada personagem.
As histórias retratadas são realmente incríveis, com destaque para a de Cioma Schönhaus (Max Mauff), que sobreviveu no submundo da cidade como habilidoso falsificador de documentos _ trabalho que acabou sendo crucial para vários outros judeus em situações parecidas como a dele _ e a de Ruth Arndt (Ruby O. Fee), contratada como empregada na casa de um oficial alemão, quem ironicamente poupou sua vida.
Além de fazer esse registro histórico impressionante sobre quatro jovens que encontraram brechas criativas para se manterem vivos em meio ao terror (vale lembrar que cerca de sete mil judeus permaneceram em Berlim durante a Segunda Guerra, mas somente 1,7 mil sobreviveram), Os Invisíveis chama atenção também para uma perspectiva mais inocente sobre o Holocausto. Um exemplo está na história do personagem Eugen Friede (Aaron Altaras). Ora o espectador acompanha a felicidade do adolescente ao encontrar a paixão, mesmo vivendo como refugiado numa casa de estranhos; ora acompanha o horror do personagem ao descobrir o que, de fato, acontecia nos campos de concentração _ numa das cenas mais fortes do filme. Está no longa ainda a questão da solidariedade entre os alemães, com inúmeros casos de pessoas que correram riscos para salvar a vida de judeus, olhar que reforça a importância do amor ao próximo, e sobretudo da esperança, em tempos de tanto terror.
PROGRAME-SE
:: O quê: exibições de Os Invisíveis, drama alemão dirigido por Claus Räfle.
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 18, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais).
:: Classificação: 14 anos.
:: Duração: 110min.