As músicas eruditas sempre foram a preferência do gaúcho Angelin Loro, natural de Três de Maio, que as ouve desde a juventude. A escolha pela dedicação ao piano, no entanto, veio a partir da paixão por grandes mestres mundialmente conhecidos, como Bach, Mozart e Beethoven. Licenciado em Música pela UFRGS e pós-graduado em Educação Especial pela PUCRS, Loro é cego e, aos 70 anos, tem uma longa carreira de sucesso. Sua estreia nos palcos foi em julho de 1963, no Teatro Municipal Carlos Gomes de Blumenau (SC), com 17 anos. Desde então, executou diversos recitais como solista de orquestras no Brasil e também no Exterior.
E é esse talento que ele vem mostrar como convidado no concerto beneficente que a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev) realiza no próximo sábado, no UCS Teatro, em Caxias. A entidade completa 35 anos em novembro e, de acordo com o presidente, Cláudio Biasio, a intenção com o show é arrecadar fundos para a instituição, mas também levar a música erudita e popular ao público. O convite a Loro surgiu a partir de uma conversa de Biasio com a pianista Olinda Allessandrini:
— Ele (Angelin) já tocou com grandes orquestras no Brasil, algumas até fora do país. Quando o convidamos, ele ficou muito feliz, tanto de poder fazer parte do concerto quanto de ajudar na causa dos deficientes visuais — explica Biasio, há 31 anos à frente da Apadev.
E essa não será a primeira vez que Loro estará em Caxias. Ele esteve por aqui em 1978, mas confessa não lembrar de detalhes. Devido à deficiência visual, o músico explica que não costuma se recordar dos locais que se apresenta pelo ambiente, mas lembra sempre das pessoas que encontra:
— É do contato com as pessoas, com a conversa, que me lembro mais. O ambiente, sua aparência, suas cores e tudo o que é material, que eu dificilmente posso tocar, não fica na memória, a menos que alguém me descreva. Mas gravo muito os contatos pessoais.
A ligação com o lado humano, aliás, foi o que fez com que Loro virasse professor de música por mais de metade de sua vida. A vivência com os alunos fez também com que ele entrasse em contato com a música popular – até então a sua dedicação era somente com a música erudita. De 2006 a 2009, o pianista ministrou aulas de musicografia (notação musical em Braille) e consultoria a professores de música videntes, que passaram a atuar como multiplicadores do ensino musical para cegos e deficientes visuais.
— As músicas erudita e popular são muito diferentes. A erudita é a que perdura, a que os grandes mestres criaram com critérios rigorosos. Essas obras são mantidas na sua forma original, com todo um rigor artístico. Já a popular é passageira, sempre responde às aspirações e sentimentos de uma época. Existem muitas diferenças entre elas, mas é essa fronteira que tento levar ao público – adianta.
PROGRAMA
Prelúdio e Fuga Nº 15 1º vol, de Johann Sebastian Bach.
12 variações K.265 "Ah Vous dirai-je Maman", de Wolfgang Amadeo Mozart.
Rondo a Capriccio op.129, de Ludwig van Beethoven.
Prelúdio Op. 3 No.2, de Sergei Vasilievitch Rachmaninoff.
Dança Negra, de Mozart Camargo Guarnieri.
Rondo Capriccioso Op.14, de Félix Bartholdy Mendelssohn.
SERVIÇO
O quê: concerto beneficente com o pianista Angelin Loro.
Onde: no UCS Teatro (Rua Francisco Getúlio Vargas, 1.130), em Caxias do Sul.
Quando: sábado, às 20h.
Quanto: ingressos a R$ 60, à venda na Livraria do Maneco, na UCStore e na Apadev. Idosos e estudantes pagam meia.