Inflação galopante, escassez de produtos nos supermercados e congelamento de preços. O ano é 1986. O Brasil recém deixava para trás a repressão da ditadura militar e enfrentava seu legado de instabilidade econômica, desemprego e crescimento exponencial dos índices de violência urbana. No mercado fonográfico, é também o ano de lançamento de Cabeça Dinossauro, terceiro álbum de Titãs — o primeiro a garantir um disco de ouro para a banda paulista. Com batida acelerada ao melhor estilo punk rock, Paulo Miklos, Arnaldo Antunes e companhia fizeram ecoar um grito de protesto frente às repressões cotidianas sofridas pela população brasileira.
Três décadas mais tarde, o disco que marcou a trajetória de Titãs é revisitado pelo coletivo carioca Complexo Duplo em Cabeça (Um Documentário Cênico). A peça será apresentada ao público da Serra neste domingo, no Teatro Murialdo, em atividade que encerra a programação da Semana do Rock promovida pelo Sesc. Com dramaturgia e direção de Felipe Vidal, o espetáculo explora as nuances do teatro documentário e traz oito atores-músicos em cena, que interpretam as canções de Cabeça Dinossauro e provocam um diálogo entre o contexto de lançamento da obra e o cenário atual do Brasil.
— A proposta era trazer algo forte através de uma costura com a obra dos Titãs. São canções contestadoras, escritas há 30 anos, mas que poderiam ter sido feitas hoje. Uma coisa muito doida, né? É bonito pela contemporaneidade, mas lamentável que as questões relativas às instituições que nos governam e à própria história política do Brasil ainda estejam em voga. Parece, inclusive, que regredimos em alguns aspectos — comenta Vidal, que também atua no espetáculo.
Na peça, as músicas são interpretadas ao vivo e na ordem original do LP, provocando questionamentos sobre temáticas como violência policial, religião, sistema capitalista e família tradicional. Em cartaz desde 2016, Cabeça (Um Documentário Cênico) é a segunda parte da Trilogia Paramusical, que já trouxe ao público a mistura de cores e ritmos do movimento tropicalista, com a peça Contra o Vento. Conforme Vidal, a ideia é fazer música ao vivo, seguindo os traços do teatro documentário, mas com espaço para romper a estrutura convencional dos musicais:
— A gente queria fazer um espetáculo que tivesse música, mas que não seguisse esses protocolos. A trilogia é formada por espetáculos que não seguem necessariamente os protocolos daquilo que a gente costuma chamar de musical, de formato americano, como os da Broadway. São dois atos: primeiro tocamos as canções do lado A, fazemos um intervalo e voltamos com o lado B. E tudo isso vai se mesclando de forma muito natural — explica o diretor.
Premiado
Em 2017, Cabeça (Um Documentário Cênico) foi agraciado com os prêmios Shell RJ e Questão de Crítica.
Elenco
Além de Felipe Vidal, que dirige e atua, a peça traz ao palco os atores e músicos Felipe Antello, Guilherme Miranda, Gui Stutz, Leonardo Corajo, Lucas Gouvêa, Luciano Moreira e Sergio Medeiros.
Turnê
Depois de Caxias, o espetáculo segue para Lajeado (24/7), Passo Fundo (26/7), Uruguaiana (28/7) e Camaquã (31/7).
PROGRAME-SE
O quê: apresentação da peça Cabeça (Um Documentário Cênico) do coletivo carioca Complexo Duplo.
Quando: domingo, às 18h (duração: 110 minutos).
Onde: Teatro Murialdo (Rua Flores da Cunha, 1.740), em Caxias.
Quanto: R$ 20, R$ 15 (empresários com cartão Sesc/Senac) e R$ 10 (comerciários, classe artística, estudantes e idosos), à venda no Sesc Caxias (Rua Moreira César, 2.462).
Classificação: 16 anos.
Informações: pelo telefone (54) 3209-8250.