Responsável pelo serviço em língua portuguesa da Rádio Vaticano, o paranaense Silvonei José é um dos painelistas convidados para o 2º Congresso Nacional de Espiritualidade, no próximo dia 5 de maio, no UCS Teatro, em Caxias do Sul. Considerado "a voz do Papa" para o Brasil e outros países onde o português é a língua oficial, o doutor em comunicação e professor universitário falará sobre pontificado do papa Francisco desde que ele assumiu o posto de 266º da líder da Igreja Católica, em 13 de março de 2013.
— Minha abordagem será um pouco de uma releitura do que está ocorrendo no pontificado do papa Francisco, em tantos momentos bonitos que eles nos apresenta, mas também com tantas indagações, com tantos puxões de orelha que ele nos dá através das suas perguntas, das suas colocações, desde o "cristão de sofá", o "cristão de museu", a "cara amarrada", a "cara de defunto", a "cara de velório" (comportamentos que, segundo Francisco, não combinam com os "verdadeiros cristãos") — afirma o radialista, há 29 anos em Roma.
Por email, ele concedeu a seguinte entrevista ao Pioneiro:
Pioneiro: Que abordagem pretende apresentar no 2º Congresso Nacional de Espiritualidade?
Silvonei José: A minha abordagem será um pouco de uma releitura do que está ocorrendo no pontificado do papa Francisco. Tentar chamar a atenção para o que nos indica o papa Francisco nesses cinco anos de pontificado. Que estrada ele está percorrendo desde o primeiro momento e que estrada nos ajuda a percorrer. Em tantos momentos bonitos que eles nos apresenta, mas também com tantas indagações, com tantos puxões de orelha que ele nos dá através das suas perguntas, das suas colocações, desde o "cristão de sofá", o "cristão de museu", a "cara amarrada", a "cara de defunto", a "cara de velório". Enfim, abordar como constrói nosso papa Francisco o seu pontificado. Creio que será uma belíssima viagem, uma imersão em certos conceitos que o nosso papa Francisco nos apresentou durante esses cinco anos.
Em que sentido a vivência de uma espiritualidade pode contribuir para a sensação de bem-estar?
Eu não consigo imaginar viver meu dia sem um momento de espiritualidade. Sem o oxigênio, a "gasolina" para passar o dia inteiro. E esse momento de espiritualidade vem do bom dia que eu faço ao meu Senhor, do bom dia que eu faço à Nossa Senhora, do bom dia que eu faço aos meus antepassados. Essa vivência da espiritualidade me dá aquela carga, aquela vontade de viver, me dá essa sensação de bem-estar de que tem um Deus que está ao meu lado, que está comigo, que caminha comigo e está diante das dificuldades, dos escorregões que eu possa ter. E ele está ali, pronto para me suportar, a me erguer e me ajudar a continuar esta minha caminhada. A oração é o elemento fundamental, a Santa Missa, o encontro com Jesus na eucaristia. Que sensação eu poderia ter de professar a minha fé sem a "gasolina" da minha existência?
Quais as suas principais tarefas na Rádio Vaticano?
Hoje sou o responsável pela língua portuguesa do Vatican News. O Vatican News é a nova realidade do dicastério para a comunicação, a secretaria para a comunicação, que foi uma reunificação dos setores de comunicação do Vaticano, seja do Pontifício Concílio para as Comunicações, o centro televisivo do Vaticano, a livraria e a editora do Vaticano, o serviço fotográfico, a sala de imprensa, o site vatican.va, tudo faz parte dessa secretaria e eu sou o responsável pela parte em língua portuguesa do Vatican News. O Vatican News tem no seu coração o Centro Editorial Multimídia, em seis línguas: português, inglês, francês, espanhol, italiano e alemão.
Qual a responsabilidade de ser "a voz do Papa" no Brasil e nos países de língua portuguesa?
Cada vez maior. O papa Francisco cada dia é uma surpresa. Uma surpresa agradável porque ele não nos deixa quietos. Ele não nos deixa parados. Nos provoca todos os dias a fazer alguma coisa diferente. E essa responsabilidade me enche de orgulho, mas também com um certo temor de não escorregar em pequenos subterfúgios, mas de produzir fielmente aquilo que é o pensamento do nosso papa Francisco. É um privilégio que eu encaro, acima de tudo, com uma devoção muito grande com o nosso Santo Padre pelo fato de ele representar o nosso Cristo na Terra.
Como é o seu dia a dia? Com que frequência tens contato com o papa Francisco?
Eu chego na rádio às 7h30min. Temos a nossa primeira reunião às 9h com os responsáveis das línguas para enfrentarmos o dia a dia do Papa, quais serão os temas principais, qual o enfoque que será dado a certos argumentos que o Santo Padre evidencia nas suas várias audiências, encontros, celebrações, etc. O contato que temos é nas audiências gerais, às quartas-feiras, ou quando temos celebrações. Não é um contato, naturalmente, diário, porque o Santo Padre tem tantos outros afazeres e outros momentos em que ele se encontra com pessoas que vêm visitá-lo, seja em audiências privadas ou públicas na Praça São Pedro ou na Basílica de São Pedro.
Quais as principais diretrizes de Francisco em relação à comunicação da Igreja, especialmente sobre a Rádio Vaticano?
O Santo Padre quer a Igreja presente nos meios de comunicação. Quer que sejamos uma fonte de informação fidedigna. Que aquilo que nós produzimos seja realmente aquilo que espelha o coração da Igreja. Nós falamos da capital da catolicidade. A especificidade da Rádio Vaticano é o Ministério Petrino (do apóstolo Pedro, considerado o primeiro Papa da Igreja). Nós mandamos para o mundo inteiro o Ministério Petrino. É a primeira função que a gente tem: esmiuçar um pouco o conceito do Ministério Petrino. Depois, a atuação da Santa Sé em todas as partes do mundo, das igrejas particulares, mas também com o olhar para a política, a economia, a questão social, sempre seguindo a doutrina social da Igreja. As diretrizes do Santo Padre são de um diálogo permanente, de uma construção de paz através da informação, através de um diálogo profundo que possa comunicar a beleza da verdade.
A que o senhor atribui a popularidade do papa Francisco?
O papa Francisco tem uma grandíssima popularidade porque é muito autêntico. O (sobrenome do) papa Francisco é Bergoglio. Bergoglio já era assim. Ele simplesmente agora veste essa grande missão de ser o Papa da Igreja Católica. Ele simplesmente é o homem que sempre foi e essa popularidade se vê agora. O papa Francisco, que já era muito popular em Buenos Aires, antes como cardeal, agora como Papa, faz com que essa popularidade aumente, a sua gestualidade seja vista como um modo muito bonito. Os momentos de afeto e carinho com as crianças, com os idosos, com os jovens, fazem com que ele se torne cada vez mais simpático. É uma grande empatia, não só dentro da Igreja Católica, mas também com pessoas de outras religiões, de outras fés. Acho que é o único líder mundial que toca a tecla dos problemas do homem. O Papa vai aos problemas do ser humano, da sociedade de hoje, e coloca o homem no centro da discussão e não na periferia, seja a discussão econômica, social ou política.
O senhor já trabalhou com diferentes Papas. Quais foram os principais legados de cada um?
Tive a oportunidade de trabalhar com três Papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Com João Paulo II, com quem trabalhei por 16 anos, aprendi uma coisa muito importante: estar em silêncio para rezar. Ele tinha uma fortíssima presença na oração. Quando ele se detinha para a oração, parece que o mundo parava, para ele e para quem estava ao seu lado. Aprendi com ele o valor dessa interioridade que devemos ter quando rezamos, quando conversamos com nosso Pai do Céu. Bento XVI me ensinou a ser pertence da Igreja. Não basta ser católico se eu não ajo como um católico. Pertencer a essa grande família católica, uma Igreja vibrante, dinâmica. E com Francisco, aprendemos novamente a ser misericordiosos. Deus perdoa tudo. Nós temos que pedir essa misericórdia. Mas também o perdão. O valor do perdão. Saber perdoar. Não podemos ser livres se não temos um coração limpo, transparente, e é o perdão que faz isso. É o perdão que nos torna transparentes em relação ao próximo, ao irmão, aquele que nos ofendeu. E com a sua última exortaçao apostólica, o valor do sorriso, que é a estrada para a santidade: a alegria. Sermos alegres. Um cristão deve ser alegre senão não é cristão.
Quais os principais desafios da Igreja e dos cristãos hoje em dia?
Como disse o nosso papa Francisco, estamos vivendo um período muito difícil, e creio que estamos ligados muito à perseguição dos cristãos em todo o mundo. O Papa falou várias vezes que estamos vivendo uma perseguição muito maior do que no início da cristandade. Esses são os desafios da Igreja para que possamos apoiar esses nossos irmãos. É um grande desafio porque você hoje pode morrer em alguns países do mundo pelo simples fato de ter um crucifixo numa correntinha no peito. Para nós, no Brasil, isso é terrível, mas para essas pessoas que querem professar a sua fé, que dão a sua vida pela fé que professam, é um sofrimento atroz. Não poder celebrar o Natal, a Páscoa, não poder celebrar no domingo a Santa Missa porque você está sendo perseguido. Ser obrigado a sair da sua casa, deixar a sua terra, as suas heranças culturais, ancestrais, deixa o país porque querem matar o seu filho pelo simples fato de você professar o amor em Jesus Cristo.
Em uma época em que muito se fala sobre ecumenismo, como é a relação da Igreja Católica com as outras religiões?
O momento do ecumenismo é muito forte. Vimos o encontro do Santo Padre em Cuba, quando encontrou Kirill, o patriarca ortodoxo de Moscou, e foi realmente um momento histórico. Vemos cada vez mais líderes de outras religiões que vêm ao Vaticano encontrar o Santo Padre. É uma abertura? É um caminho enorme para que todos sejam um, como gritou certa vez João Paulo II na Basílica de São Pedro: devemos ser um. Cada um na sua diversidade, mas todos com a mesma fé em Jesus Cristo. Mas com ecumenismo, paz, em diálogo. Tudo vem de um dom, que todos nós possamos ter essa unidade. O ecumenismo está dando passos gigantes e a Igreja Católica está nessa linha de frente para que isso aconteça.
Como a tecnologia tem contribuído para manter fiéis e atrair novos seguidores?
As novas tecnologias podem aproximar ainda mais, principalmente muitos jovens que vivem esse mundo digital. A tecnologia nos facilita a ter respostas, a ceder a certos conceitos, a certas necessidades intelectuais que podem parecer emergentes. As tecnologias devem ser também utilizadas pela Igreja, para que deem respostas a esses nossos jovens que vivem navegando, dentro do nosso mundo digital. Nada mais é do que o alongamento daquilo que já temos. O telefone é do ouvido, o microfone é da boca. O carro são dos nossos pés. Temos que utilizar as tecnologias para que possamos, através delas, levar uma mensagem de amor. Se a tecnologia pode ser útil para chegar às pessoas, para fazê-las conhecer melhor Jesus Cristo, que sejam bem-vindas. Vamos utilizá-las, mas utilizá-las bem.
Qual o papel da Igreja diante de temas como violência e corrupção, especialmente no Brasil?
A Igreja tem os seus valores, falando de violência e de corrupção, que vêm desde Jesus Cristo. Nada se inventa. O papel da Igreja é ser conciliadora, mediadora, de repropor aqueles valores que podem desarmar um coração violento. O amor desarma a violência. O respeito pelo outro desarma a violência. O papel da Igreja é, simplesmente, colocar o amor no coração das pessoas. A corrupção é fruto do desamor, porque corrompe. A corrupção nasce do egoísmo. Eu! Tirou o "eu" do Deus. O "eu" está no coração da palavra Deus.
Como a Igreja se posiciona diante de questões consideradas tabus, como uniões homoafetivas, aborto e casamento dos padres e sobre os quais ela é muitas vezes criticada?
A Igreja tem uma doutrina sobre tantos tabus. A vida é essencial. Deve ser preservada do momento da concepção até o seu ocaso. São temas de grandes discussões. Tem que continuar a falar, a discutir, mas não devem ser colocados como prioridades, como se todo o resto não existisse. O que não se discute dentro da Igreja é o valor da vida. O casamento dos sacerdotes... se há uma parte dentro da sociedade, dentro da nossa Igreja também, que quer discutir, discutam. Não vejo problema em discutir. O problema é quando você quer impor certos modos de pensar como se o meu modo de pensar fosse o único a ser respeitado e o único que está certo. É um diálogo intermitente que deve ocorrer.
Agende-se
O quê: 2º Congresso Nacional de Espiritualidade.
Quando: dia 5 de maio, das 8h às 18h30min.
Onde: no UCS Teatro, em Caxias do Sul.
Quanto: R$ 229, à venda nas lojas Drops de Menta, Amêndoa Doce e Serrana Tecnologia Integrada e no site bit.ly/2CongressoNDE.
É possível parcelar em 3x nos pontos de venda e em 10x no site (há taxas).