Os anos 1990 contemplaram jovens brasileiros com muito pagode romântico, programas de auditório memoráveis na tevê aberta, comédia musicada pelos Mamonas Assassinas, boy bands surgindo às pencas, etc... Mas a década também produziu um lado mais malvado da cultura pop, que chegou com tudo por aqui ocupando principalmente a telinha da contestadora MTV. Houve toda uma geração “educada” por meio das vinhetas sacanas da emissora, e que descobriu artistas lado B assistindo a programação depois da meia-noite ou aos episódios de Beavis and Butt-Head. Havia um grito de melancolia e sujeira vindo do grunge. E havia um monte de bandas pipocando pelas garagens dos bairros, como numa resposta à ideia de que tudo precisava ser feito antes que o mundo acabasse na virada do século.
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Atrações em Caxias nesta terça, as bandas Water Rats e Deb and the Mentals (ambas radicadas em São Paulo) não surgiram na década, na verdade, são amostras vigorosas do underground brasileiro atual. Mas no caldeirão das influências que eles remexem há muito dessa atmosfera de rock sem firula emoldurado por camisas xadrez e jeans surrados. Deborah Babilônia, talentosa frontwoman do Deb and the Mentals, por exemplo, viu a maior parte de suas referências femininas figurando entre as paradas musicais dos anos 1990.
– Shirley Manson (Garbage), PJ Harvey, Kim Gordon (Sonic Youth), Courtney Love (Hole), Cat Power, Natalie Imbruglia – lista ela.
A banda chamou atenção em 2015, com o lançamento do estrondoso EP Feel the Mantra. Este ano, o quarteto formado ainda por Stanislaw Tchaick (baixo), Guilherme Hypolitho (guitarra) e Giuliano Di Martino (bateria), colocou na roda o CD Mess, amostra mais completa do seu potencial sonoro.
– Para nós, o disco foi algo mais trabalhado, melhoramos o entrosamento entre nós e amadurecemos a ideia do estilo que queríamos seguir. Estamos escutando juntos muito shoegaze, banda antigas de grunge, bandas de amigos e enfim, músicas alternativas. Escutamos de tudo, desde pop, anos 90, anos 80, anos 70, punk, metal, eletrônico. Todos esses movimentos nos influenciam de alguma forma – diz Deborah, apontando para referências que vão bem além dos tais anos 1990.
O som da Water Rats também faz várias menções ao grunge “Nirvanístico” dos anos 1990 – tanto que os caras tiveram o EP Hellway to High (2016) gravado e mixado em Seattle, por lendas como Bryan Pugh e Jack Endino. Mas o quarteto apimenta a receita com pitadas de stoner e punk. O vocal gritado, compartilhado entre Alexandre Capilé e Pedro Grips, leva o ouvinte diretamente a sonoridades mais cruas de bandas como Black Flag, Fugazi e Bad Brains. Em Caxias, os caras apresentam repertório do disco Year 3000, registro explosivo, barulhento e espontâneo.
A noite na Cachaçaria Sarau terá ainda como anfitriões os caxienses do duo Jessica Worms e do trio Os Bombarderos Suicidas, bandas que também carregam a sujeira do rock no coração.
Programe-se
:: O quê: shows com Water Rats, Deb and the Mentals, Jessica Worms e Os Bombarderos Suicidas.
:: Quando: nesta terça, às 21h.
:: Onde: Cachaçaria Sarau (Rua Coronel Flores, 749).
:: Quanto: R$ 30, na hora.