
Guitarrista que por duas décadas trabalhou a serviço de alguns dos principais músicos de jazz da Europa, o gaúcho Alegre Corrêa considera que a apreciação musical tem pouco a ver com gosto, e mais com informação. Quando se eleva o nível de informação oferecido à população, melhora a qualidade da audiência. Essa é uma missão que Alegre, apelido que Clóvis Corrêa ganhou ainda na infância em Passo Fundo, considera fundamental para resgatar uma música popular brasileira que pouco se renova, e que será um dos assuntos abordados na oficina de criação e filosofia musical que irá ministrar em Caxias a partir desta quinta-feira até domingo.
– Na época em que a Elis Regina era a musa do Brasil, o povo tinha uma educação musical muito melhor do que hoje. Porque a música que tocava no rádio tinha textos bons e harmonias e melodias incríveis. Mas o Brasil passa por um momento que essa informação foi tirada da população, e precisa ser feito todo um trabalho para mostrar que temos gênios como Pixinguinha, Villa-Lobos, todo o pessoal do choro. A sensibilidade é a mesma em todos os lugares, só que alguns países souberam manter a cultura musical, que no Brasil nós deixamos cair e precisamos ajudar a levantar – destaca o músico.
Aos 57 anos, Alegre fala com a autoridade de quem acompanhou o tradicionalista Luis Carlos Borges nos anos 1980; lançar um disco com participação de Hermeto Pascoal (Negro Coração, de 1995); tocar em festivais prestigiados como Montreux (Suíça) e Chicago (EUA), além de conquistar o Grammy de Melhor Álbum de Jazz Contemporâneo (o ao vivo 75, de 2010) com o grupo do tecladista austríaco Joe Zawinul (membro da banda de Miles Davis nos anos 1970 e do grupo Weather Report). Para o guitarrista, que também é cantor, compositor e percussionista, a música brasileira oferece uma das formações mais completas, e que por isso é tão prestigiada no Exterior, assim como seus músicos.
– A música popular brasileira é uma das mais ricas do mundo. Quem sai do país com essa formação lá fora é considerado um músico de jazz, pois tem conhecimento de improvisação, encadeamentos harmônicos complexos, modulações, tudo isso está na nossa música popular, mas o nosso povo muitas vezes não sabe. Fui para a Áustria em 1988 convidado para fazer alguns shows e acabei ficando 21 anos – conta.
Morador de Florianópolis, para onde se mudou no início dos anos 1980 e retornou após a jornada na Europa, Alegre comenta que suas oficinas são inspiradas nas questões filosóficas que aprendeu com Zawinul, abordando principalmente aos aspectos musicais que podem influenciar para fazer pessoas mais felizes e uma sociedade melhor:
– O entendimento de como funciona a hierarquia da música, que é uma engrenagem cheia de peças, em que todas são essenciais para haver funcionamento harmônico, é a célula básica do curso. A ideia é passar as manhãs conversando sobre assuntos ligados à criação e à filosofia da música, como ferramenta para o desenvolvimento da sociedade e as muitas nuances que podem fazer as pessoas mais felizes através dela, e à tarde praticar e compor algumas peças em conjunto, que iremos apresentar no último dia (em jam session no Zarabatana Café).
_ O quê: Oficina de Criação e Filosofia Musical, com Alegre Corrêa
_ Quando: 2 a 6 de agosto, das 10h às 18h
_Local: Salão do Centro de Cultura Ordovás
_ Quanto: Consultar disponibilidade de vagas na fanpage da Tum Tum Produções, que promove o evento. A oficina é gratuita.