Rafael Iotti pensava que pudesse existir uma literatura isenta da vida pessoal. Mudou de opinião quando, em um de seus estudos, leu uma declaração do escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880), que afirmava ser ele mesmo Madame Bovary, personagem de seu célebre livro lançado em 1857. A partir daquele momento, chegou à conclusão de que "toda literatura, toda arte é autobiográfica". E é com essa convicção que o escritor lança nesta sexta-feira, em Caxias do Sul, seu primeiro livro de poesias, Mas é possível que haja outros.
– Todo poema que escrevo é uma forma de elegia, como se fosse um poema não só aos mortos, mas eu lido muito com o passageiro do cotidiano, as coisas mais sensíveis que podem escapar primeiramente ao olhar. A minha matéria de arte poética é a contemplação – afirma o autor de 24 anos, que é filho do cartunista Carlos Henrique Iotti.
Dividida em três segmentos, a obra traz a produção de Iotti desde 2010, quando ele começou a escrever de forma mais sistemática. Na primeira parte, Poemas Infantis, traz poesias relacionadas à visão do escritor sobre sua infância. Poemas Frágeis reúne textos com um viés mais esperançoso, embora ingênuo, sob a ótica de que o amor é o que deve prevalecer. Uma visão mais otimista, mesmo que alguns poemas sejam um tanto tristes. A última parte, Poemas Insensíveis, tende a temas escatológicos.
A verdade é que Iotti transborda sentimentos. E é nos altos e baixos da vida, entre sonhos, alegrias, tristezas e decepções, onde ele busca inspiração para transformar sensibilidade em palavras.
– Eu conheço escritores que escrevem bem em tempos felizes, conseguem ter uma rotina. Não lembro quem falou que "a felicidade nunca escreveu um poema que preste". Aí eu falei: "bah, isso aí sou eu, eu sou assim". As coisas que me comovem é quando eu releio e penso: "bah, isso aí eu tava na capa da gaita, no último estágio da fossa". E isso pra mim parece que tem mais força. A tristeza é um excelente elo de produção – reflete.
A capa, uma foto do amigo e fotógrafo Vicente Carcuchinski é outro "detalhe" que chama a atenção e diz muito sobre o escritor:
– Na minha infância inteira andei sempre de pé no chão. Ainda hoje adoro andar de pé no chão. E tem sempre uma rebeldia de que tu não podes subir nas coisas com os pés sujos e aqui a pessoa está na cama com os pés sujos. Eu gosto muito dessa foto.
Ele já pensa nos trabalhos seguintes. A ideia é lançar outros dois livros de poesias, fechando uma trilogia de poemas. Embora ainda não haja nem previsão de lançamento, as obras seguintes já têm até nome: Outros e Ninguém. Iotti também está escrevendo um romance ambientado em Caxias do Sul. Com o título de Cerração, a história tem como personagem principal um homem que volta à cidade depois de anos morando fora e começa a se lembrar de como era a vida no passado, com uma reflexão crítica à cidade do presente e do passado.
Agende-se
:: O que: lançamento do livro Mas é preciso que haja outros (7Letras, 80págs), de Rafael Iotti.
:: Quando: sexta (7), às 19h.
:: Onde: Do Arco da Velha ( Rua Dr. Montaury, 1.570, Centro, Caxias do Sul).
:: Quanto: entrada franca. O livro será vendido por R$ 35.