Se o cenário político brasileiro causa arrepios em qualquer um que se propõe a tentar desvendá-lo, a palestra que Juremir Machado da Silva faz em Caxias nesta terça pode ser um caminho para a análise crítica de contextos complexos. O escritor, jornalista, professor e doutor em Sociologia pela Universidade de Sorbonne (Paris) vem à Serra para um debate de nome robusto: Mídia e Poder no Brasil - No cenário de ameaças à democracia e aos direitos.
Leia mais:
Natalia Borges Polesso: Fragmentos
Sociedade por João Pulita
"Se tu baixas tua expectativa financeira, tu podes ser o que quiser", aconselha Otto Guerra, homenageado deste ano em Gramado
– Fui eu mesmo que defini esse título. Acho que é o tema do momento, nós estamos vivendo uma época em que política, economia e questões jurídicas estão totalmente entrelaçadas, há uma grande insegurança econômica, com desemprego crescente; uma grande insegurança política, porque o governo pode cair a qualquer momento; e uma grande insegurança jurídica, porque a gente nunca sabe o que a justiça vai decidir, os critérios não são claros (...). Mas o tema também pode ser entendido também assim: que país é esse em que a corrupção no fundo não interessa, não é o problema, a corrupção só é tratada como problema como pretexto para tomar o poder? – questiona o palestrante, que ocupará a tribuna da Câmara de Vereadores a partir das 19h30min de hoje.
A ameaça aos direitos, prevista no título da palestra, refere-se às tentativas de reformas que os brasileiros enfrentam hoje, como a da previdência social e a trabalhista. O palestrante busca referência na época da abolição da escravatura para analisar as justificativas apresentadas pelo governo hoje.
– Fiquei cinco anos pesquisando os jornais da época em torno da abolição. Era muito parecido, por exemplo, com o que se diz hoje em torno da reforma trabalhista. Os defensores do escravismo faziam o mesmo discurso de “pensem no país”, “pensem na responsabilidade”, “se abolirem escravidão o país vai quebrar”. Então, estamos repetindo o passado – opina ele, que escreveu sobre o assunto no livro Raízes do conservadorismo brasileiro: a abolição na imprensa e no imaginário social.
Juremir vem a Caxias a convite de um coletivo de comunicação – o Alternativa – e ele mesmo ocupa a posição de formador de opinião, reverberando diariamente ideias nas ondas da rádio Guaíba e nas páginas do jornal Correio do Povo. Inevitável, então, o entrelaçamento da temática política com o tratamento que ela ganha na mídia. Juremir acredita que não há risco de censura no país, pelo contrário, vivemos um período de informações cada vez mais múltiplas.
– Estamos numa situação curiosa, é muita informação e pouca digestão – diz, ainda que criticando as informações privilegiadas as quais alguns veículos têm acesso.
Por tantas vezes apontada como a causa de todos os problemas, a vilania da “grande mídia” também é ponderada pelo jornalista. Para ele, existem bons profissionais em todos os veículos:
– A mídia é como a sociedade: contraditória, tem de tudo.
Conforme Juremir, o caminho trilhado pelo país atualmente só tem um destino possível: o buraco. Para sair dele, só começando do zero.
– Precisamos de uma reforma política, uma constituinte exclusiva para mudar regras que os próprios políticos eleitos não vão mudar, porque eles só pensam no mandado deles. Enquanto não se fizer isso, o que nós temos aí é um bando de aproveitadores, pegaram um atalho e estão tentando fazer grandes reformas que eles não conseguiriam fazer com a aprovação popular no voto – critica.
Programe-se
:: O quê: palestra com Juremir Machado da Silva.
:: Quando: nesta terça, às 19h30min.
:: Onde: plenário da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul.
:: Quanto: entrada franca (inscrições pelo e-mail caxiasmi-diaepoder@gmail.com).