Ao adentrar uma exposição, o espectador estreita-se numa relação direta com o olhar do artista, autor das obras que ali estão. Mas há ainda um outro olhar nesse entremeio, muitas vezes nem lembrado por quem visita uma mostra em galerias ou museus. Valorizar a figura do curador é justamente o mote da nova iniciativa encabeçada pelo Santander Cultural, em Porto Alegre. Depois de cinco anos dando espaço para novos artistas em inéditas exposições individuais, a tradicional mostra RS Contemporâneo ganha agora uma complementação no título: Pensamentos Curatorais.
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– O RS Contemporâneo movimentou uma geração de artistas que muitas vezes não tinham oportunidades de expor individualmente. Tivemos curadores praticamente do país inteiro na intenção de que conhecessem esses nossos novos artistas. Mas depois de cinco anos precisávamos de uma inovação, e por que não dar espaço aos curadores gaúchos, dando a oportunidade para eles escolherem o que gostariam de trabalhar? A sociedade vê mais os artistas e não quem está nos bastidores, pensando, mastigando, fazendo conexões para facilitar a compreensão das obras a quem visita uma mostra. A gente quer olhar justamente para esse lado – justifica Carlos Trevi, diretor-superintendente do Santander Cultural.
Para abrir esse novo momento, a instituição lançou ontem, para a imprensa, a exposição Nem Eu, Nem Tu: Nós – A obra de Karin Lambrecht e o olhar do colecionador. O curador convidado é o jovem André Venzon, também artista visual e gestor cultural. Ele é o responsável não só por um olhar à obra da porto-alegrense Karin, mas também por um olhar muito especial à coleção de Justo Werlang, da qual as peças fazem parte.
– O meu olhar se funde ao olhar do colecionador, no sentido de cuidar, de dar dimensão a uma coleção que sai de um espaço íntimo para o espaço público. O quão importante é isso para o público, poder acessar essa coleção particular – sugere Venzon.
Ao lado de Justo Werlang, o curador viveu nove meses de imersão na obra de Karin Lambrecht, que resultou na reunião de 103 trabalhos, a maior parte pinturas e desenhos, além de três instalações e mais de 60 documentos como cadernos de esboços e estudos que ajudam a compreender a trajetória da artista.
– Tem a representação simbólica do início, a fecundação, a gênese, algo que a artista persegue. É sempre um ciclo, de vida e morte, luz e sombra. Ela usa mitos para nos levar a pensar sobre nossa origem, dentro de uma tradição ocidental – comenta o curador.
A artista também esteve presente no lançamento da mostra, ontem. Karin ficou emocionada em ver todo seu caminho trilhado nas artes ali representado, valorizando um caráter cíclico que as próprias peças evidenciam:
– É a primeira vez que uma exposição contempla peças de vários momentos diferentes da minha trajetória. É comovente e estou considerando como um ciclo, já que fiz 60 anos em janeiro.
Programe-se
:: O que: RS Contemporâneo – Pensamentos Curatoriais, exposição Nem Eu, Nem Tu: Nós – A obra de Karin Lambrecht e o olhar do colecionador. Curadoria de André Venzon
:: Onde: Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1.028, Centro Histórico de Porto Alegre)
:: Visitação: de 15 de março a 30 de abril (de terça a sexta, das 10h às 19h; e sábados e domingos, das 14h às 19h)
:: Quanto: entrada franca