Finados foram nesta quarta, mas é imperioso remexer no obituário. Semana passada o capitão da inesquecível e maravilhosa seleção brasileira tricampeã mundial, foi vítima de "Morte Súbita" ("MS"). Causa-mortis: Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). É bem possível e lógico. Afinal, o total de sua incidência a cada ano, no mundo inteiro, afeta aproximadamente dez milhões de pessoas. Cabe lembrar que o IAM é a maior causa de falecimentos nos países desenvolvidos e mesmo nos emergentes.
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Só nos Estados Unidos e exclusivamente por essa entidade mórbida cerca de um milhão de americanos perdem a vida anualmente. Tal catástrofe é muito mais devastadora do que as guerras. Por isso, os antigos a consideravam uma vingança dos deuses da maldição. Carlos Alberto morreu num "apagão", preenchendo os critérios da definição científica de “MS”, ao implicar que ela seja repentina, não previsível, inesperada e sem pródromos recentes.
O capitão capitulou de manhã, em casa, fazendo palavras cruzadas, sem ter praticado o menor esforço. Pois é assim mesmo. Oitenta por cento das "MS" ocorrem no ambiente doméstico e nas primeiras horas matinais. E podem acometer indivíduos absolutamente normais, sem antecedentes de isquemia coronariana e, obviamente, em maior intensidade, aqueles já portadores de obstrução. Menos de 20% morrem subitamente nas ruas e/ou em ambiente hospitalar. O perigo mora em casa. Há que não perder tempo! Ampliando: mais de 300 mil americanos falecem de "MS" por ano – cifra estarrecedora: quase 30 mil mensais, quase mil num dia e ao redor de dois por minuto. Eis porque os sinos dobram continuamente.
Delas, o coração é o principal culpado em 90%, sendo que também se pode morrer, num relampejar, por tempestades arrítmicas advindas de múltiplas síndromes, além de doenças do músculo cardíaco – as “cardiomiopatias”. O "IAM" se manifesta sobretudo pela dor torácica (usualmente no meio do peito), intensa, violenta e de duração, em geral, superior a 20 minutos, com suas irradiações típicas ou não. Todavia, 30% deles podem ser assintomáticos ("silenciosos") ou atípicos - evento caracteristicamente mais comuns em idosos, mulheres, negros, diabéticos e usuários de betabloqueadores. Se complicações severas irromperem, o prognóstico torna-se sombrio. Entre os principais fatores de risco: fumo, colesterol, diabetes, hipertensão arterial, sedentarismo, obesidade, genética e estresse.
Por sorte, o eletrocardiograma – a mais antiga ferramenta cardiológica (e até desprezada por não ser método sofisticado) é a melhor maneira de diagnóstico, associado à dosagens enzimáticas, por coleta sanguínea e ambos mediante repetições obrigatoriamente seriadas. E, hoje em dia, a mortalidade se reduziu substancialmente, beneficiada pela moderna terapêutica. Enfim, nem tudo é notícia alarmante.