As três alas diferentes do Apanhador centralizaram suas atenção para o rapper MV Bill, sexta-feira à tarde.
– Ali, cantando à capela, no meio deles, em cada um dos três momentos, me arrepiei a toda hora – disse o veterano da cena hip hop brasileira, que conhece muitos presídios do Brasil, mas viveu sensações únicas em Caxias.
Soldado do Morro, hit de Bill, foi cantado quase em coro pelos cerca de 450 detentos. Letra que fala de ter uma causa para combater, um sentido de vida.
– O sofrimento de hoje pode virar o aprendizado de amanhã – falou o rapper, fazendo questão de cruzar as grades que os separavam dos detentos, cumprimentando um a um, abraçando os fãs mais emocionados.
Para o artista, o sentido da visita foi além de ouvir o rap da ala A, ou as parcerias e cumprimentos da B ou C.
– Talvez eles não façam rap, nem sejam MCs. Mas esta dinâmica dá uma luz quando eles saírem para a rua – disse, prometendo exibir o clipe produzido pelo projeto MCs pela Paz no Apanhador em seu programa de tevê:
– É importante contar uma história que não seja triste de uma penitenciária.A alegria da visita se expandiu para a dos organizadores do encontro, os rappers Chiquinho Divilas e JL e o DJ Hood.
– A ideia é alçar o voo do recomeço, fazer eles acreditarem que a comunidade e a família precisam deles lá fora – comentou Chiquinho.
– Apostamos na semente de um sonho, na ideia de que existe outro mundo além do crime, fazê-los acreditar neles mesmos, acreditar nos ser humano. Isso é o lado social do rap – afirmou JL.
– Trazer uma referência do rap nacional para o Apanhador faz parte de uma história que esta casa está fazendo – complementou Hood.
Encontros de hip hop
Há tempos de forma não convencional e há um ano através do projeto MC’s Pela Paz, os detentos do Apanhador têm encontros na batida do hip hop. Fizeram uma letra, Voz ao Excluído (Eu tinha tudo para ser/ Mais um número no presídio/ Ser a escória da sociedade/ No Fórum só um registro...) e gravaram um videoclipe.
– Não adianta o Estado pegar pessoas que cometem um delito e jogar num depósito. Um dia eles votam às ruas. E as taxas de reincidência são altas. A gente quer que eles voltem para a rua um pouco melhor – disse Jean Carbonera, presidente do Conselho da Comunidade Carcerária.
É desse mundo além das grades que MV Bill falou de forma contundente aos que o abraçaram e apertaram suas mãos com excitação. O futuro também pode se fazer em rimas e versos.
– Percebi que é muito importante o trabalho que vem sendo feito em Caxias. É importante quando a arte faz parte da ressocialização, quando quem está atrás das grades sai das páginas policiais para estar nos cadernos de cultura – avaliou MV Bill.