O primeiro fim de semana de mostra competitiva do 44º Festival de Cinema de Gramado teve dois bons representantes dos gêneros mais exitosos da produção brasileira contemporânea: a cinebiografia musical e a comédia popular. As produções paulistas Elis, de Hugo Prata, e O roubo da taça, de Caíto Ortiz, fizeram o público festivaleiro emocionar-se e divertir-se no Palácio dos Festivais.
Estreia no longa-metragem de Prata, diretor de videoclipes e documentários musicais, o filme sobre Elis Regina (1945 – 1982) conta a história da cantora gaúcha desde a chegada ao Rio de Janeiro com 19 anos até a morte trágica e precoce. Quem interpreta a Pimentinha é Andréia Horta, protagonista da novela Liberdade, liberdade – que já desponta como favorita ao Kikito de melhor atriz.
A impressionante interpretação da mineira de 33 anos comoveu a plateia e fez muita gente chorar.
– A gente nunca imaginou que a primeira exibição fosse ser em um festival, muito menos que viríamos para o Sul, na terra onde ela nasceu! Isso é mais uma vez a Elis mostrando sua presença até hoje – disse Andréia a Zero Hora.
Na coletiva de imprensa de Elis, Prata falou sobre as escolhas do roteiro:
– Foi difícil, porque muita coisa tinha que ficar de fora. O desafio era encontrar o arco dramático. A gente tentou se aproximar dessa mulher frágil lutando contra o machismo da sociedade e da indústria da música naquela época, dos anos 1960 aos 1980. A decisão foi escolher as músicas que tocavam para frente a história. No nosso caso, por exemplo, tocar Cabaré tinha mais função do que Águas de março.
Em entrevista a ZH, Andreia – que dubla Elis na tela com uma entrega convincente e tocante – relembrou a importância da cantora em sua vida:
– Quando eu tinha 16 anos, já sabia que logo iria sair da minha cidade, Juiz de Fora, para estudar em São Paulo para ser atriz. Fiz uma fita com as músicas que marcaram a minha vida até então em Minas. A primeira era No dia em que eu vim me embora, cantada pela Elis. Meu primeiro contato com ela foi pelo que a canção dizia: "No dia em que eu vim me embora minha mãe chorava em ai, minha irmã chorava em ui e eu nem olhava pra trás".
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Em um registro dramático oposto a Elis, o engraçado O roubo da taça é uma ficção sobre um dos episódios mais bizarros da história recente nacional: o furto da Taça Jules Rimet da sede da CBF no Rio de Janeiro, no dia 19 de dezembro de 1983, por um grupo de ladrões pés-de-chinelo – que teriam derretido a simbólica peça e vendido o ouro. Quem encarna na trama o mentor intelectual do crime é o histriônico ator Paulo Tiefenthaler, no papel do malandro Peralta – cafajeste casado com a exuberante Dolores, vivida com graça e sensualidade por Taís Araújo.
– O Peralta é a decadência da malandragem carioca – resumiu na coletiva do filme o protagonista, que ficou conhecido apresentando o programa de receitas culinárias sem-noção Larica total, no Canal Brasil.
Já Caíto falou sobre a primorosa reconstituição de época de O roubo da taça e a pesquisa histórica do filme:
– A realidade é mais enrolada ainda do que a gente mostrou, aconteceram muito mais coisas. Tomamos algumas liberdades: o Peralta não tinha mulher, por exemplo, e eram três ladrões, não apenas dois. A história até hoje é mal contada, a Fifa inclusive começou agora a procurar a taça. Ninguém sabe onde foi parar o ouro derretido. Os fatos mais malucos do filme são verdade.
O roubo da taça entra em cartaz no dia 8 de setembro, enquanto Elis tem estreia marcada para 24 de novembro.