Seriam zumbis circulando por espaços públicos, empunhando pequenas engenhocas, apontando para o esmo? Mas há Danúbio Azul, aquela valsinha tão recorrente dos balés clássicos como trilha sonora. Então a cena da coreografia Lacuna, que a Cia. Municipal de Dança de Caxias estreia hoje, às 20h, no Teatro Pedro Parenti investe no sentido que seu criador pretende dar.
– Percebo que existe um espaço que as pessoas precisam construir. Não precisamos estar o tempo inteiro lá, nem o tempo inteiro cá – diz Peter Lavratti, coreógrafo do trabalho.
Os dois contextos da mesma questão aludem à vida contemporânea e seu totem cotidiano, o celular. Ele é o ícone de uma relação nem tão bem resolvida do ser humano e as novas tecnologias. Comunicação e diálogos vazios, vácuos de sentidos entre o ser e a máquina circunstanciam os contextos da dança levada à cena.
O trabalho foi desenvolvido em dois meses de atividades de Lavratti, gaúcho radicado em Belo Horizonte, com os dez bailarinos que estão em cena: Alessandro Rosa, Ana Paula Stédile, Assaury Gonçalves, David Cruz, Janaína Cruz, Jênifer Bonho, Paula Giusto, Pedro Coelho, Tábata Faé e Thiago Roque.
– Sabia da diversidade de informações de dança do grupo. E isso não foi um problema, pelo contrário. Diversidade interessa muito mais – afirma o criador, que trabalhou a partir da improvisação e de ações físicas pontuais para encontrar um movimento coreográfico.
A nova obra é, portanto, fruto de um esforço coletivo permeado pelas informações de dança que Lavratti trouxe como material compositivo: ele dançou no Grupo Corpo e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, na Raça e no Cisne Negro, em São Paulo, dentre outras companhias.
– Não tenho como me afastar disso, dessas referências. Mas quero fazer um diálogo entre o conceitual e o palatável. Quero uma boa dança – descreve, enumerando duos, trios e momentos em que todo o grupo está no linóleo.Segundo o coreógrafo, a proposta do trabalho é ser até mesmo didático. Mas também buscar o humor.
– Poderia falar destes temas de uma forma mais dura, mas deixei o humor vir. Há um espaço que as pessoas podem construir em meio a esse mergulho na tela, esses tablets da vida. A humanidade precisa descobrir uma maneira de usar a tecnologia sem perder o tanto de coisas que existe ao redor – reflete Lavratti.
É pensando em seu entorno que, de alguma forma, o trabalho reflete o contexto da Cia. Municipal de Dança, que procura um sinal, uma frequência estável para existir.
– Estamos sem uma direção artística, somos uma equipe que tem pontos específicos de atuação. O trabalho é a busca de equilíbrio das ideias dessas várias pessoas e afirma uma vontade de comunicação com o público – diz Marina Vilchez, coordenadora da Unidade de Dança que, no início de setembro, levará Lacuna a Curitiba, e, em novembro, à abertura do Baila Santa Maria.
O Que: Espetáculo Lacuna, da Cia Municipal de Caxias
Quando: hoje e amanhã, às 20h
Onde: Teatro Pedro Parenti
Quanto: R$ 5