Marcelo D2 é do tipo que respira hip hop. E fala com orgulho da ascensão do movimento em nível mundial.
– Você vê rap em tudo que é lugar do mundo. Já viajei 25 países cantando e todos tinham rap, uma cena local. É música que saiu do gueto e foi pro mainstream. É a música do momento _ disse, em entrevista concedida por telefone ao Pioneiro na quinta-feira.
Na madrugada desta sexta (29) para sábado (30), o rapper carioca sobe ao palco da All Need Master Hall, em Caxias do Sul, para apresentar o show da turnê Nada Pode Me Parar, que faz um apanhado de sua carreira solo, além de clássicos do Planet Hemp, como Mantenha o Respeito e ZeroVinteUm.
Aos 48 anos, D2 tem convicção do poder de transformação de seus versos, que ganham ainda mais força diante do cenário em que se encontra o Brasil. Mesmo assim, não é tão otimista em relação ao futuro do país:
– Tem dias em que acordo otimista, tem dias em que não. Hoje é um dia em que não. É um país muito grande, a gente está precisando de muitas mudanças. O país é governado a toque de caixa para que se roube. É muito difícil. É um país extrativista, só querem tirar, tirar, tirar. Ninguém está preocupado em fazer um país melhor para que a gente viva em condições melhores. Parece que o Brasil vai ser sempre um país onde as pessoas roubam. O ouro, depois o café, depois o pau brasil, depois não sei o quê. Acho que vai ser sempre assim.
PROGRAME-SE
:: O que: Marcelo D2 apresenta a turnê Nada Pode Me Parar em Caxias do Sul
:: Quando: madrugada de sexta para sábado, à 1h30min. Abertura com JL e Banda, à meia-noite. Antes e depois dos shows, discotecagem do DJ Zinho. A casa abre às 22h
:: Onde: All Need Máster Hall (Rua Castelnovo, 13.351, bairro Capivari _ % (54) 3028.2200)
:: Quanto: R$ 60 (ingresso duplo), R$ 40 (ingresso normal), R$ 60 (front vip) e R$70 (mezanino) na loja Tribus Surf Skate (Av. Júlio de Castilhos, 1.856, Centro. (54) 3028.2063). Camarotes: entre R$ 90 (individual) e R$ 2.000 (para 24 pessoas). Venda on-line: www.dticket.com.br/comprar/44/Marcelo-D2
:: Realização: Festa Connection. (54) 9143.7426
Leia a entrevista na íntegra:
Pioneiro: Em um dos trechos de MD2 (A Sigla no Tag), você canta: "O mundo inteiro já ouviu nossa voz / O rap é foda e já fez muito por nós". No meio de tantas mudanças no mundo, quais devem ser as bandeiras do rap?
Marcelo D2: Cara, o rap está numa crescente fu****. Pela facilidade e por todo mundo poder fazer, por ser uma música regional. O rap acabou se globalizando muito. Você vê rap em tudo que é lugar do mundo. Já viajei 25 países cantando e todos tinham rap, uma cena local. É música que saiu do gueto e foi pro mainstream. É a música do momento.
Com a emergência do hip hop na cultura contemporânea, como separar quem é do movimento dos oportunistas?
Com essas coisas não tem que se preocupar. O que é de verdade fica. O que é interessante é que existe uma cultura super urbana nas grandes cidades do mundo inteiro. Os jovens do mundo inteiro estão vestindo boné, vestindo seus moletons, seus tênis e indo pra rua. Isso que é o mais importante. Como qualquer estilo musical. Aconteceu isso com o rock 'n roll, aconteceu isso com o punk rock, que era muito improvável, mas aconteceu. Houve grandes empresas que transformaram pessoas que não são de verdade para parecer que é aquilo. Mas acho que isso tudo bem, cara. Quando tiver uma raiz forte, nada derruba. O movimento hip hop é muito mais do que só cantar rap. É a maneira de se vestir, é a maneira de se portar, é a maneira de estar no mundo hoje. Ele cabe muito bem nesse mundo de hoje, um mundo competitivo.
E no atual momento do Brasil, essas questões políticas e econômicas, o rap ganha mais força?
"Esse momento do Brasil" que você diz é de 1500 pra cá, né? (risos)
Você acredita que o país possa melhorar?
Cara, se vai melhorar, não sei, é uma pergunta difícil. Tem dias em que eu acordo otimista, tem dias que não. Hoje é um dia que não. É um país muito grande, a gente está precisando de muitas mudanças. Enquanto a gente tiver as mesmas leis para o Acre e para o Rio de Janeiro, ou sei lá, do Oiapoque ao Chuí as mesmas leis, também não cabe. Temos culturas diferentes num país tão grande. Uma cidade que nem Caxias do Sul não pode ter as mesmas leis que uma cidade como Garanhuns, em Pernambuco. São cidades completamente diferentes. A gente tem que ter mais liberdade. O país é governado a toque de caixa para que se roube. É muito difícil. É um país extrativista, só querem tirar, tirar, tirar. Ninguém está preocupado em fazer um país melhor para que a gente viva em condições melhores. Parece que o Brasil vai ser sempre um país onde as pessoas roubam. O ouro, depois o café, depois o pau brasil, depois não sei o que. Acho que vai ser sempre assim.
Qual a importância e o sentido da volta do Planet Hemp?
A gente tem um papel e uma posição política muito forte, então é interessante, no momento que o país está vivendo de turbulência política. É interessante a gente voltar e mexer um pouco com isso. Aproveitar que as pessoas estão tão imbuídas na política. Parece que agora que o governo da Dilma caiu as pessoas esqueceram um pouco, mas a gente não pode esquecer que o PMDB está lá da mesma maneira que o PT estava. São partidos completamente corruptos, todos eles.
Parece que tudo foi solucionado.
Mas não foi. Eles continuam lá, fazendo as mesmas coisas. Só trocaram os ladrões. Então a gente tem que ter mais participação política, sim, e acho que o Planet Hemp tem esse lado bom, que a gente pode ajudar um pouco nisso. Acho interessante. É a minha maneira de fazer política.
Você já falou que debater a descriminalização da maconha não é mais uma bandeira tão central. Qual é o debate sobre as drogas que precisa ser feito?
A primeira coisa que a gente tem que aprender é que é um problema de saúde e não de polícia. Quando eu falo drogas, eu não falo de maconha não, porque eu acho que a maconha está num outro lugar, diferente do álcool, do tabaco e da cocaína. A maconha é uma droga muito mais leve. É meio que inexplicável o porquê da proibição da maconha.
Como vê a carreira do filho, Stephan, que começou no palco contigo?
Ele está bem! Vai lançar um disco solo no fim do ano e a gente vai fazer algumas coisas juntos em novembro, mas eu não posso falar muito sobre. Mas ele está bem, no melhor momento dele. Ele começou muito cedo, então tem uma bagagem muito grande com 23 anos.
Essa semana foi dia dos avós. Como tem sido a experiência com Giovanna (filha de Stephan)?
Maneiraço, né, cara! Muito feliz com isso. É ser pai duas vezes.
E o teu namoro com o samba, como anda? Há um projeto de disco para este gênero?
Com o samba eu já casei, não é nem mais namoro. Já é casamento mesmo, cara! Eu gravei agora no disco do Zeca Pagodinho um disco bonito pra caramba de 1940 chamado Delegado Chico Palha e quero ver se faço alguma coisa de samba mais lá pra frente. Tenho escrito alguns sambas.