Quem transita pela Avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre, dificilmente fica ileso a um olhar curioso pelo prédio do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Inaugurada em 1884, a edificação parece soprar um clima de dor e loucura em quem a visualiza de longe. Isso também acontecia com o fotógrafo caxiense Mauricio Susin, hoje radicado em Salvador, mas que morou muitos anos na capital gaúcha.
– Tem um mistério meio Edgar Allan Poe ali, um imaginário coletivo de horror, de fantasmas, talvez por causa dessa coisa das pessoas trancadas – sugere ele.
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O desejo de saber o que as antigas paredes guardavam foi uma das motivações para Susin criar a mostra fotográfica São Pedro, que será aberta nesta quinta no Porão do Paço Municipal de Porto Alegre. Mas a força maior do trabalho está na capacidade de registrar memórias que habitam o prédio, ainda que a maioria das fotografias não mostre pessoas.
– O ar é muito denso, é cheio de memórias. A imaginação da gente imediatamente começa a criar. Tu acabas absorvendo muito do lugar, o ambiente não te deixa ficar disperso, tu não tens espaço para outra coisa a não ser absorver aquilo. Foi tenso, mas ao mesmo tempo tão interessante... um prédio histórico, tantas pessoas viveram e morreram ali – comenta o fotógrafo de 35 anos, membro da agência europeia SOOC.
As fotos, todas em preto e branco, são resultado de visitas semanais de Susin ao hospital durante pelo menos seis meses de 2014. A mostra é composta por 14 imagens, parte delas capturadas em alas desativadas do prédio, o que atenua a sensação de abandono intrínseca ao lugar.
– As fotos que mais me marcaram, e são os pilares desta experiência, são as que não têm pessoas. Vejo nestas imagens uma presença constante e inquietante dos pacientes – diz Susin.
A degradação do prédio e a dessimetria de alguns ambientes retratados conversam com a linguagem torta da perturbação mental, ao mesmo tempo que denunciam um dos nortes da exposição: o apagamento do sujeito. Mesmo trabalhando sob essa perspectiva, Susin acabou se identificando muito com as pessoas que encontrou no São Pedro. Se a imponência do prédio se impõe aos olhos de quem o vê de fora, quem se atreve a ultrapassar os muros do hospital não escapa de um passeio pelo universo íntimo de cada paciente. E essa experiência é marcante:
– Chegando lá eu percebi um elemento de identidade, me identifiquei com as alegrias, as dores, as fragilidades daquela condição humana de deterioração, me identifiquei com estes sentimentos. Foi uma descoberta muito gratificante.
PROGRAME-SE
:: O que: exposição fotográfica São Pedro, de Mauricio Susin
:: Onde: Porão do Paço Municipal de Porto Alegre (Praça Montevidéu, 10 - Centro Histórico)
:: Quando: abertura nesta quinta, às 19h. Visitação até 22 de julho, de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 13h30min às 18h
:: Quanto: entrada franca
Exposição
Caxiense Mauricio Susin abre mostra sobre o hospital São Pedro, na Capital
Fotógrafo frequentou oficina de criatividade da instituição e desbravou alas abandonadas do prédio
Siliane Vieira
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