Um mês em cartaz nos cinemas de shopping de uma cidade no interior do Rio Grande do Sul. Tal "honra" é geralmente conferida a grandes produções, blockbusters, comédias nacionais e afins. Para se ter uma ideia, entre os últimos que alcançaram esta marca em Caxias estão títulos como Kung Fu Panda 3 e A Série Divergente: Convergente. Ao lado deles, um terror obscuro e sem nenhuma estrela conhecida no elenco entra em sua quarta semana de exibição na cidade a partir de hoje: A Bruxa. O filme fez mais de 5.514 espectadores nas primeiras três semanas de exibição no Cinépolis e GNC.
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Dirigido pelo estreante em longas Robert Eggers, A Bruxa chegou a Caxias no dia 10 de março, depois de diversas solicitações via telefone aos cinemas locais. Na bagagem, o filme trazia o aval da crítica especializada e dois importantes prêmios: melhor primeiro longa no London Film Festival e melhor diretor em Sundance. Nos Estados Unidos - país de origem da produção junto com o Canadá - o filme estreou em terceiro lugar nas bilheterias e num único dia faturou mais de 3 milhões de dólares. No Brasil, foram mais de R$ 2 milhões no fim de semana de estreia. Detalhe: a produção custou pouco mais de 1 milhão de dólares (R$ 3,65 milhões).
Talvez o público tenha enxergado no longa as mesmas possibilidades que o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira visualizou ao se deparar com o projeto. À frente da empresa RT Features, ele já trabalhou em filmes como Cheiro do Ralo (2006), Alemão (2014) e Frances Ha (2012), e ganhou parceiros importantes como Martin Scorsese. Teixeira foi um dos responsáveis por viabilizar que o roteiro cheio de pesquisa histórica de Robert Eggers saísse do papel.
- A originalidade do projeto foi o que mais me chamou atenção. Quando li o roteiro, com os diálogos em inglês arcaico, e conversei com o diretor vi que ali havia um projeto especial. A experiência do diretor como produtor de arte fez com que os detalhes de construção de set e figurino realmente chamassem a atenção - comenta Teixeira, em entrevista ao Pioneiro.
A Bruxa retrata uma família de fervorosos religiosos tentando sobreviver numa colônia "amaldiçoada" na Nova Inglaterra do século 17. O longa envolve o espectador numa atmosfera sombria que mistura terror psicológico com possessão. O ritmo e o clima propostos - diferentes da maior parte dos filmes de terror convencionais - provocaram a reação de alguns críticos de cinema: boa parcela deles alertou que A Bruxa não era um filme que agradaria o "público de shopping".
- É sempre difícil julgar o que o público quer, ou não quer. Acho que o filme não faz concessões em termos artísticos para alcançar um público maior. Os diálogos, o trabalho com os atores, a montagem, tudo ali está a serviço do filme que se quer fazer, da história que se quer contar. Acho inclusive que o filme está um pouco distante do que as pessoas costumam assistir quando vão ver um filme de terror, ele não é um filme de sustos. Tem mais a ver com construção de climas - sugere Teixeira.
Apesar da recusa de alguns espectadores, A Bruxa tem 90% de aprovação da crítica no site internacional Rotten Tomatoes. Carlos Primati - jornalista, historiador e pesquisador dedicado ao cinema de horror - é um dos grandes fãs brasileiros do filme e defende a carga artística do longa de Robert Eggers:
- Eu acho o final mágico, me permito não acreditar que aquilo esteja de fato acontecendo, mas sim que é uma sensação, que pode ser o que eu quiser: um delírio, uma morte, uma epifania, um retrato poético de uma situação drástica. Cinema pra mim é isso.
Quem quiser concordar ou discordar tem, pelo menos, até a próxima quarta-feira para conferir A Bruxa nos cinemas de Caxias.
Cinema
Terror 'A Bruxa' entra na quarta semana de exibição em Caxias
Filme fez 5,5 mil espectadores em três semanas, o que representa pelo menos uma sessão lotada por dia
Siliane Vieira
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