Das três dezenas de peças que integram a 17ª edição do Caxias em Cena, uma das mais contundentes foi escolhida para marcar os dois primeiros dias da programação, que abre nesta quarta-feira: Oleanna, a trupe carioca Cia. Epigenia, com texto do premiado e polêmico dramaturgo norte-americano David Mamet e direção de Gustavo Paso. No elenco, Luciana Favero e Marcos Breda, veterano dos palcos e conhecido também pela atuação no cinema e na televisão (na Globo, integrou o elenco de novelas como Que Rei Sou Eu?, Vamp, Senhora do Destino e Caras & Bocas, entre outras).
- É um texto que eu conhecia e admirava há muitos anos. Quando li a notícia de que iria sem montada, em 2012, liguei para o Paso e perguntei se estavam com o elenco fechado, pois queria participar - conta Breda.
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Na trama, dividida em três atos, Carol, uma aluna desesperada (interpretada por Luciana, mulher do diretor e também produtora da peça), procura um professor (Breda) pedindo ajuda passar na matéria que ele leciona. A conversa caótica que se segue dá margem a interpretações dúbias, ou melhor, cada envolvido a interpreta à sua maneira. Isso redunda nos dois atos seguintes, quando a universitária acusa o mestre de assédio, ampliando a tensão e mexendo os cordões de poder.
Breda ressalta que, embora Oleanna tenha sido escrito em 1992, as questões que aborda - as relações deformadas de poder, que se estruturam a partir da incomunicabilidade - continuam atualíssimas:
- Nesta época de redes sociais, fica ainda mais evidente o "nós contra eles", a incomunicabilidade, a intolerância, a incapacidade de diálogo. As pessoas vão para uma discussão não para ouvir, mas para afirmar suas verdades - avalia, creditando o fato à falta de maturidade.
Quando a peça termina, essas questões continuam em pauta, num debate (ou "bate-papo informal") entre elenco e plateia. É a oportunidade de praticar o que falta aos personagens: troca de ideias e tentativa de compreensão mútua.
O ator conta que Oleanna está em cartaz já há dois anos, e, embora seja uma montagem de baixo orçamento, sem patrocínios, foi indicada a diversos prêmios. Ele a considera um dos espetáculos mais prazerosos e bem-sucedidos de seus quase 35 anos de carreira. Isso porque a simplicidade do cenário (são apenas duas cadeiras, uma mesa e dois atores no palco) constrasta com o que ele chama de "um texto poderoso":
- Esse é um pressuposto fundamental: um grande texto. É o tipo de espetáculo que gosto de fazer, e que mostra que mais importante que a verba é o verbo, a palavra - resume.
Formado em Letras pela UFRGS e mestre em Teatro pela UniRio, ele conta que ajudou a fazer a tradução de Oleanna que está sendo usada pela Cia Efigenia. Múltiplo, o ator também está em cartaz, em São Paulo, com a peça O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, e acaba de gravar um seriado infantojuvenil do diretor Gustavo Spolidoro.
Além disso, está em negociações para participar, ainda no segundo semestre, de um seriado na Globo, e planeja para 2016/2017 as filmagens de um longa baseado no livro Os Tambores Silenciosos, de Josué Guimarães - que está em fase de pré-produção e deve ter locações no Rio Grande do Sul. Outro projeto é o lançamento do livro A Capoeira e o Ator, resultado de sua dissertação de mestrado, que está em fase de captação de verbas via crowdfunding.
O ator, gaúcho de Porto Alegre, mostra-se contente em encenar Oleanna no Estado, inclusive em Caxias, que "conhece a vida inteira".
- Meu pai nasceu em Cotiporã e meu nonno falava vêneto. Fico feliz em levar a peça para a parentada da região - diz Breda, revelando ainda que os filhos, embora sejam cariocas de nascimento, torcem para o Internacional.
AGENDE-SE
O que: espetáculo Oleanna, da Cia Epigenia
Quando: dias 9 e 10 (quarta e quinta), às 20h
Onde: Teatro Pedro Parenti (Rua Dr. Montaury, 1.333), em Caxias
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (estudantes, idosos, classe artística e servidores públicos municipais).
A PEÇA
Texto: David Mamet
Direção: Gustavo Paso
Elenco: Luciana Favero e Marcos Breda
Duração: 75 min + 20 min de debate
Gênero: drama
Classificação: adulto
