Esta semana, procurando algo interessante na prateleira de livros não lidos, deparei com um exemplar de A Estranha Maldição, de Dashiell Hammett. Não lembrava que tinha esse livro, devo tê-lo comprado algumas feiras do livro atrás, num daqueles balaios com preços super em conta. Apesar de ter ficado uns dois ou três anos esquecido, bastou eu começar a leitura para querer seguir até o fim sem demora - afinal, não é por acaso que Hammett é considerado o criador do romain noir americano.
O livro, claro, não é novo - sua primeira edição data de 1928. Mesmo assim, garanto que vale a leitura, a quem conseguir garimpá-lo em algum sebo ou biblioteca por aí (nas livrarias, deve ser mais difícil; a edição que tenho é de 1984, da Abril Cultural). Sei que costumo dar dicas de livros mais recentes, mas em se tratando de uma obra do autor do clássico O Falcão Maltês, vale a pena ter um pouquinho de trabalho para encontrá-la.
Bom, vamos à história. Ela é contada em primeira pessoa por um detetive particular cujo nome não é mencionado. Nas primeiras linhas, nós o encontramos tocando a campainha de uma casa, e, enquanto espera, vê um minúsculo diamante caído na grama. Logo vamos saber que esse é um dos oito diamantes recém-furtados daquela casa, e que ele foi contratado pela companhia de seguro para investigar o furto. O dono da casa não era o proprietário das pedras, mas estava com elas para tentar fazer algumas experiências em seu laboratório, na tentativa de dar-lhes cor. Na sequência, um suposto ladrão aparece morto, e seu cúmplice some com os diamantes.
Porém, o detetive-narrador não acredita em soluções tão fáceis, e sente que há algo estranho na história. Por isso, continua suas investigações. Em determinado ponto, a filha dos donos da casa, Gabrielle Leggett - uma jovem de 20 anos, malcriada e com estranhas orelhas pontudas e sem lóbulos - desaparece. Ela acaba encontrada no prédio de uma seita, dopada, mas há novos desdobramentos, incluindo outra morte e revelações dos segredos do passado. Agora, sim, o caso parece encerrado.
A trama, entretanto, está apenas lá pela página 70, e o livro tem mais de 250. Por si só, isso já dá a entender que nem tudo estava tão bem explicado como parecia, e o próprio narrador deixa isso claro dali a pouco, quando transcreve uma conversa com um de seus amigos. Algumas páginas adiante, lá está ele de volta ao caso, dessa vez para tomar conta de Gabrielle. E vai descobrir que, realmente, há mais coisa por trás da suposta maldição que pesa sobre ela e sua família...
O livro é uma ótima pedida para os fãs de romance policial. Aqui, vale uma ressalva: embora tenha sido lançado na mesma época em que a rainha do gênero, Agatha Christie, começou a fazer sucesso, A Estranha Maldição (como as outras obras de Dashiell Hammett) vai por outro caminho. Isso porque aqui o crime extrapola o universo fechado tão clássico das tramas "whodonit" ("quem fez") e invade o domínio das ruas, mais sórdido. O próprio detetive não é como o cavalheiresco Hercule Poirot, mas sim alguém mais rude e cínico.
Uma curiosidade é que o próprio autor trabalhou por oito anos em uma agência de detetives. Talvez isso o tenha feito enveredar por algo mais próximo do real. O que não torna as reviravoltas da trama menos racambolescas, mas dificulta bastante o clássico jogo de tentar encontrar as respostas antes do final da leitura...
Dica de livro
Maristela Deves: Os crimes noir de Dashiell Hammett
"A Estranha Maldição", lançado originalmente em 1928, é um livro cheio de reviravoltas
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