Jorge Rocha Netto revira uma pilha de sua respeitável coleção de discos de vinil. Dali retira a coletânea New York City Disco, primeiro álbum do Brasil mixado por um DJ - no caso o carioca Ricardo Lamounier.
- Por causa deste disco estou metido nisso - diz o DJ, ao lembrar que escutou pela primeira vez um medley do álbum numa festa na boate do Juventude:
- Só o Julius (Israelis) tinha. Dias depois passei na frente de uma loja de discos e estava tocando a mesma coisa, parei a moto e fui lá.
Em 1976, ano em que adquiriu o LP New York City Disco, Rocha Netto começou a tocar em algumas festas de amigos e, dali para se transformar em disc jóquei profissional, foi um pulinho. A animação do caxiense de 55 anos ao lembrar da trajetória sugere o quão inesquecíveis foram aquelas décadas de 1970 e 1980, quando as discotecas foram escritórios de profissionais como ele e Julius Israelis. Ambos são personagens do documentário Faixa Bônus, que pretende remontar esse período em Caxias por meio de depoimentos cheios de saudosismo. A produção, custeada pelo Financiarte, está em fase de edição e montagem, com previsão de estreia a partir de março.
- Fazemos um recorte, desde os anos 1970, com o surgimento de uma pessoa tocando na pista (a figura do discotecário), até o fim dos 1980, quando surge o CD no Brasil e muda tudo _ revela Jorge de Jesus, o Mono, diretor do documentário que também assume a função de DJ em algumas festas por aí.
- Mas eu já comecei a tocar com CD, é muito diferente - comenta ele.
E é mesmo. No dia em que recebeu a equipe do Faixa Bônus para gravar o depoimento em sua casa, Rocha Netto lembrou das dificuldades enfrentadas pelos DJs que atuavam na cidade há quase 40 anos.
- Hoje em dia, o cara vai para o Big Brother, é DJ, namora com a Madonna, é DJ. Uma vez era bem mais difícil. Tocar com disco de vinil é complicado, além disso, tu tinha que comprar os discos importados, que eram muito caros. Eu era cliente de um dono de loja no Rio que me ligava e colocava as músicas dos lançamentos pelo telefone para eu ouvir - relata Rocha Netto, que foi proprietário da Boate Underground e fez história na boate do Juventude.
Além de Rocha Netto e do já citado Julius Israelis, o filme também tem depoimentos de DJs como Eliseu Marin, Zé Marcon, Beto GG, Jaime Rocha, Moacir Beto, Zeca Frá, Ademar Stragliotto, Vitor Hugo Marchi, Flavio Paganin, Carlos Pereira, Joãozinho do Palermo e Ferronato. Ao todo, são mais de 40 horas de entrevista, que vão formatar o documentário de 40 minutos.
- É uma forma de prestar uma homenagem em vida a esses profissionais - diz Mono.
