A nova 'Gabriela' - há uma semana no ar e com bons índices de audiência - é um primor em contrastes e cores, mas um primor que denuncia exagero no uso de tais recursos. O laranja do céu sertanejo ficou mais laranja, o azul, mais azul, assim como o marrom estampado na sujeira do rosto e das vestes de Juliana Paes. <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Como pecado de tamanhos contrastes, o branco total dos dentes da atriz saltam aos olhos, tornando as mazelas da personagem uma produção prévia e detalhadamente arranjada. Soou falso.
Mas, admitamos: o dedilhar da viola, somado ao pausado trajeto da retirante, cada ação a seu tempo, sem a pressa que vitima toda a dramaturgia televisiva ao ritmo videoclipado, foi obra corajosa de Walcyr Carrasco, responsável pela nova adaptação do clássico de Jorge Amado, e do diretor-geral Mauro Mendonça Filho.
A novela foi aberta com uma preguiçosa sequência de flashback. Coronel Ramiro trouxe então um Antonio Fagundes com cabelos mais compridos, apenas tingidos de preto, e a sequência valorizou o tom sépia, como aviso de que aquilo era coisa do passado. Ramiro reaparece no presente, com um Fagundes de cabelos branquinhos, ralos e algum resquício de seus coronéis em outras novelas.
Ivete Sangalo na voz de Maria Machadão é grata surpresa. Faz o seu, como dona do cabaré Bataclan, e protagoniza algumas das melhores frases do primeiro capítulo.
Com duas vantagens: baiana que é, não cai naquele sotaque nordestino adquirido em aula de prosódia. E, cantora de fato, endossa a afinação e protagoniza showzinho a capela. Gabriela mesmo, ainda é um bicho retraído. Juliana Paes mal teve a chance de abrir a boca.
Algumas cenas da nova produção, tratada pela Globo como releitura do livro, e não do folhetim de 75, são muito semelhantes com a novela do passado. Ali estão o encontro de Gabriela com os dois retirantes, no caminho para Ilhéus, a saída de Nacib bêbado do Bataclan e a ida da prostituta indo ao seu encontro no bar: registros bem preservados pelo YouTube denunciam o espelho entre as duas versões.
O texto de Carrasco faz jus ao original. Diálogos precisos e diretos mantêm a maestria de Amado no seu patamar, com entrosamento evidente de direção de imagens e de atores.