A comunidade da Serra despediu-se nesta segunda-feira (16) de um dos religiosos mais atuantes da Diocese de Caxias do Sul. Mariano Callegari faleceu aos 88 anos, em São Marcos, onde residia na Casa de Saúde Padre Pedro Rizzon. Após as cerimônias de encomendação no Santuário de Caravaggio, ele foi enterrado no cemitério da comunidade de Nossa Senhora de Monte Bérico, em Farroupilha, local de seu nascimento, em 27 de abril de 1932.
Filho de Isaco Callegari e de Júlia Mugnol Callegari, Mariano era o primogênito de nove irmãos e, desde cedo, demonstrou inclinação ao sacerdócio, ao espírito missionário e ao bem-estar das comunidades. Após ingressar no Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias, em 1946, o jovem prosseguiu os estudos de Filosofia e Teologia no Seminário Central de São Leopoldo, concluindo-os no Seminário Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Viamão.
Já a ordenação sacerdotal ocorreu em 30 de novembro de 1958, na Catedral Diocesana de Caxias. A partir daí, Mariano passaria por diversas paróquias e municípios da Serra, como Cambará do Sul, Nova Prata, Antônio Prado, Nova Araçá, Jaquirana, Cazuza Ferreira, Carlos Barbosa e, por fim, em Marcorama, interior de Garibaldi.
Sua trajetória também ficou marcada pela atuação na Paróquia Senhor Bom Jesus em Roça da Estância, interior do município de Mampituba, no Litoral Norte, a partir de meados da década de 1960. Foi onde permaneceu por 12 anos – logo no primeiro, foi homenageado pela Câmara Municipal de Vereadores com o título de Cidadão Benemérito por seu engajamento social. De lá, ele também colaborou para a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Torres e para a organização da Juventude Agrária Católica (JAC).
Na imagem acima, um registro daqueles tempos no Litoral Norte. Trata-se da comemoração de um ano da Paróquia Senhor Bom Jesus. Vê-se, a partir da esquerda, Manoel João Brocca (Nelo Brocca), Aniceto Patrício Réus, Learcino Norberto Maciel (Prefeito de Praia Grande), Padre Mariano Callegari e José Querino Nunes (Juca, ex-prefeito de Praia Grande).
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Luta contra a ditadura
Mariano Callegari ajudou a fundar diversas comunidades, lutou pela construção de escolas, despertou na população o interesse pela educação e pela formação profissional, teve participação ativa na luta sindical e batalhou para que muitos agricultores conseguissem regularizar as escrituras de suas terras.
Tudo isso, obviamente, levou-o a ser perseguido pela ditadura militar. Por organizar pequenos produtores familiares e defender a reforma agrária no vilarejo praiano, Callegari foi acusado de subversão e de compactuar com ideologias comunistas. Seu trabalho foi espionado pelos agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que o denunciaram e o prenderam em janeiro de 1969, em Torres.
Em 2008
A trajetória de Mariano Callegari e do colega Roberto Pezzi foram recordadas em uma matéria especial publicada pelo Pioneiro em 2008, por ocasião dos 50 anos da ordenação de ambos, em 1958.
Intitulada Subversivos, graças a Deus, a reportagem destacou outro personagem-chave da luta contra a ditadura daqueles tempos: o padre Ulderico Pedroni (1928-2008). Formado em Filosofia, Jornalismo e Direito, foi Pedroni que, em 1970, assumiu a defesa, perante o Tribunal Militar de Porto Alegre, dos padres “inimigos da pátria”. Callegari e Pezzi Foram absolvidos por unanimidade.
Confira a matéria na íntegra clicando nos links abaixo:
Colaboração
Com informações da Diocese de Caxias do Sul e do livro “Mampituba e Você: Juntos nessa História”, organizado por Cloreci Ramos Matos.
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