Foi num verão, por volta de 1910, que um jovem chamado Ernesto Argenta aproveitou o tempo livre das férias para confeccionar um porta-jóias para sua mãe, dona Tereza. Alguns anos mais tarde, ele se tornaria o primeiro caxiense formado em engenharia. O baú de madeira, por sua vez, se tornou um oratório, ostentando imagens de santos e um crucifixo sobre a cômoda de um quarto.
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E assim ficou por muito tempo, até que dona Tereza faleceu e o objeto foi herdado pela filha Giselda, que trocou as imagens de devoção por cartas e fotografias de família. Anos depois, foi a vez do neto Alexandre tomar posse do baú, ainda decorado por um tecido com flores nas cores vinho e branco, com fundo azulado. Foi então que as fotos deram lugar a imagens budistas.
Pelo menos até 2008, quando a centenária caixa entalhada por Ernesto Argenta ganhou novo endereço: o setor de reserva técnica da Divisão de Museus de Caxias do Sul, lar para outras mais de 10 mil peças que ajudam a contar alguns dos capítulos mais importantes da história da região.
Em pouco mais de 180 metros quadrados, é possível encontrar uma invejável gama de objetos históricos: ferros de passar, lampiões, pares de calçados, camisolas, máquinas de escrever, quadros religiosos e até mesmo fronhas, lençóis e cortinas. Há também brinquedos que remontam o início do século passado e utensílios de porcelana decorados manualmente.
Tudo cuidadosamente armazenado em caixas plásticas, arquivos, mapotecas, armários e estantes, forrando de memórias as paredes do prédio anexo do Museu Municipal, na Rua Visconde de Pelotas.
Mas, afinal, qual a importância de uma reserva técnica?
— Podemos dizer que é o coração dos museus. É importante que as pessoas saibam que não é um depósito do que não está exposto, mas sim um ambiente vivo que abastece espaços como o Monumento ao Imigrante, o Museu da Uva e do Vinho e a Casa de Pedra — explica a diretora da Divisão de Museus, Daniela Fraga.
A coordenadora do setor, Marizete Raimann, corrobora:
— Se não houver esse cuidado de conservação do acervo, as coisas vão se perder e sobrará apenas o que está exposto. Por isso chamamos a reserva técnica de coração do museu, é o local onde as memórias ficam bem cuidadas.