Político, advogado, impulsionador do desenvolvimento da antiga Vila de Nova Trento e prefeito de Flores da Cunha entre 1933 e 1941, Heitor Curra também foi um leitor voraz. E sua vasta biblioteca, recheada de coleções, almanaques e títulos raros em vários idiomas, em breve estará salvaguardada e disponível para consulta. Tudo graças à iniciativa da filha, a professora e escritora Lourdes Curra, que na última quinta-feira (6) encaminhou a doação do acervo completo do pai à Biblioteca Central da Universidade de Caxias do Sul.
São centenas de exemplares preciosos, desde os 13 tomos da Storia Universale di Cesare Cantù, de 1884; um raro Almanaco Antoniano, editado em Padova, em 1929; uma edição de 1933 da Correspondência Íntima de Ruy Barbosa; até a coletânea Sonetos Brasileiros, edição de 1913, organizada por Laudelino Freire e abrangendo obras de Muniz Barreto, João Caetano e Pedro de Alcântara, entre outros.
Uma das raridades é a coleção completa e encadernada dos primeiros três anos da Revista do Globo, editada em Porto Alegre a partir de 5 de janeiro de 1929 (foto na contracapa). Outra preciosidade são os lendários volumes do Boletim Eberle, redigidos pelo filho Nestor Curra e editados pela metalúrgica entre 1956 e 1965, trazendo o detalhado cotidiano da fábrica e diversas nuances da cidade no período.
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Coleções de vulto
Conforme a coordenadora do sistema de bibliotecas da UCS, Michele Marques Baptista, num primeiro momento, as obras passarão por higienização e catalogação. Posteriormente, estarão disponíveis à comunidade, no setor de Coleções Especiais e Obras Raras, que permite apenas a consulta local.
Trata-se do mesmo procedimento realizado com outra coleção de vulto adquirida via testamento pela UCS em 2018: o acervo literário de 4 mil títulos da família Bornheim, doado ainda em vida pela professora e poetisa Amália Marie Gerda Bornheim (1934-2017), irmã do filósofo e escritor Gerd Bornheim (1929-2002).
A história e a memória da cidade agradecem.
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Quem foi Heitor Curra
Filho do casal de imigrantes italianos Pietro Curra e Catharina Fiorese, Heitor Curra nasceu no dia 10 de julho de 1899, na antiga Vila de Nova Trento, atual município de Flores da Cunha.
Após concluir os ensinos fundamental e médio no extinto seminário Imaculada Conceição, em São Leopoldo, fez especializações nas áreas de contabilidade e advocacia. Em 1926, casou com Ignez Clementina Jaconi, nascendo desta união quatro filhos: Nestor, Humberto, Lourdes e Heitor Curra Filho.
Já em 2 de março de 1933, Curra foi nomeado prefeito municipal de Nova Trento por ato do General Flores da Cunha, época em que alterou a denominação do município em homenagem ao militar. Com o fim do mandato, em 1941, desvinculou-se da vida política e passou a exercer a atividade de escrivão do Cartório Civil e Crime, Júri e Execuções Criminais, em Caxias do Sul.
Heitor Curra faleceu em 15 de abril de 1973, aos 73 anos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Público Municipal de Flores da Cunha.
Vida em livro
A trajetória política e pessoal de Heitor Curra foi resgatada pela filha Lourdes Curra na publicação Heitor Curra – Um Cidadão Florense: Vida e Obra, escrita em parceria com Evandro Luiz de Oliveira e lançada em 2006.
Até hoje, dona Lourdes reside em um dos antigos casarões da família — construídos a partir da mudança dos Curra para Caxias, na década de 1940 —, na Rua Bento Gonçalves, entre a Dr. Montaury e a Marquês do Herval. Exatamente onde Heitor viveu e onde a coleção repousou por todas essas décadas...
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