Parte significativa dos registros históricos de que se tem conhecimento propõe que o tirolês Rodolfo Félix Laner foi o primeiro imigrante a pisar e fixar residência na área conhecida como Campo dos Bugres – região que viria a se chamar Caxias do Sul – em 1876. A primeira expedição de imigrantes italianos ao Campo dos Bugres, para fazer o reconhecimento do terreno a fim de dar início ao estabelecimento das várias famílias vindas da Itália desde 1875, era composta por Laner e José Pezzi. Félix Laner tinha vocação para o pioneirismo e exerceu esse atributo na prática em vários aspectos, tornando-se uma das figuras míticas do surgimento de Caxias do Sul.
Nascido em 22 de julho de 1840 na pequena comuna italiana de Pérgine Valsugana, situada na região de Trentino Alto, província de Trento, desde muito jovem tornou-se um ativo partidário da anexação do Tirol à Itália, contra o domínio que então a Áustria exercia sobre a região. Apesar de ter servido como soldado em sua terra natal, fugiu para a Itália a fim de se alistar no regimento dos artilheiros da infantaria italiana, corporação criada em 1836 para servir ao exército do Reino da Sardenha. Chegou ao posto de capitão nesse regimento que, poucos anos mais tarde, transformou-se no Exército Real Italiano. Nessa época, tornou-se carabineiro da Guarda Real de Vitor Emmanuel ll, o primeiro rei da Itália (de 1861 a 1878), após a unificação do país.
Naquele conturbado período de disputas, Laner se destacou pela bravura, a ponto de conquistar três condecorações: uma no campo de batalha contra as brigadas napolitanas, a Medalha Cruz ao Mérito devido ao seu valor militar e, a última, de cunho civil, pelo fato de ter salvado a vida de uma mulher que se afogava no Rio Tibre. Consta que, entre os atos heroicos que protagonizou, teria, enquanto ainda era um carabineiro, salvado a vida de seu oficial superior que estava ferido, carregando-o às costas do campo de batalha e trazendo amarrados dois soldados napolitanos inimigos.
As informações desta coluna foram retiradas do livro Ecos do Passado, de Marcos Kirst.
Patriarca de gerações
Félix Laner casou-se com Barbarina Parizzi, professora de canto na província italiana de Reggio Emilia, com quem teve a filha Égide Lúcia Maria Luiza Laner, nascida em 20 de junho de 1866. Anos mais tarde, Égide se casaria com Paulo de Campos Cartier, que viriam a ser os pais da poetisa Vivita Cartier. Barbarina faleceu pouco depois do nascimento da filha, e, em 1874, Laner casou-se novamente com uma ex-namorada, Filomena Zobel, que já tinha uma filha do casamento anterior, chamada Amália Rizzoli.
Filomena e Félix não tiveram filhos, mas ela acompanhou o marido na migração ao Brasil, juntamente com as filhas de ambos, Égide e Amália, o tio e padrasto de Félix, Giovanni Laner, sua esposa Lúcia, as filhas Maria, Filomena e Rosa e o genro Ambrozio Leonardelli.
Em 1876, Laner reuniu cerca de 20 homens e coordenou a construção de sua residência em Campo dos Bugres, na área que seria denominada como Lote Urbano Número 7, em frente ao local que atualmente situa-se o Hospital Pompeia. A casa foi a primeira a ser construída em Caxias do Sul.
Laner faleceu em novembro de 1935. Em 1949, aos 75 anos da fundação de Caxias, foi saudado por Manoel Peixoto de Abreu e Lima no jornal O Momento como um dos desbravadores da cidade Atualmente, seu nome batiza uma rua em Caxias.