– Já era hora de contar uma história de trabalhadores. Fala-se muito em "cidade do trabalho", mas pouco sobre os trabalhadores – diz Marcelo Caon, doutor em História, sobre o livro Sindicato dos Bancários: Uma História de Lutas em Caxias do Sul, de sua autoria, cujo lançamento ocorre nesta terça-feira.
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Seguindo essa proposta, a obra vai além de traçar um panorama sobre os 80 anos do sindicato, completados em 2015: ela faz um apanhado mais amplo do contexto histórico em que as lutas citadas no título se inserem. Pelas 360 páginas do livro, desfilam pessoas e fatos ligados ao mundo do trabalho, em Caxias, no Brasil e até fora dele, passando pelo advento do trabalho assalariado, os primeiros teóricos a refletirem sobre a exploração do trabalho, a imigração e o início da organização sindical na região, com a associação dos tanoeiros.
A Era Vargas, as primeiras greves, a intervenção no período da ditadura militar e o renascimento do movimento nos anos 1980 são também abordados, numa linguagem de fácil leitura e com muita complementação de documentos e fotos.
– Tive a preocupação de não deixar solta a história do sindicato – explica o historiador, sobre a preocupação em contextualizar essa trajetória.
A pesquisa para o livro, conta Caon, começou em fins de 2014 e envolveu a análise de aproximadamente 30 mil documentos dos arquivos do sindicato, com o auxílio de duas acadêmicas de História. O acervo, aliás, é bem maior, e está sendo restaurado e organizado para servir como fonte de pesquisa pública, uma espécie de "arquivo sindical" da cidade, ressalta o autor, que além de professor de História é bancário desde 1995 e também integra a diretoria da entidade.
Entre as muitas histórias contadas na edição está a de Gysmunda Pezzi, eleita em 1937 para dirigir Sindicato dos Bancários. Ela foi uma das primeiras mulheres de que se tem notícia a assumir tal cargo, numa época em que o machismo imperava – tanto que, apesar de ter trânsito entre todos os grupos para ser escolhida, acabou ficando poucos meses no cargo. Não se sabe exatamente a razão de sua saída, mas o historiador acredita que foi realmente a questão do gênero. Ele ressalta, porém, que ela tinha o respeito de seus pares, tanto que toda a diretoria pediu afastamento quando ela saiu.
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O entrelaçamento do movimento sindical com o campo político é outro aspecto abordado, e Caon lembra, por exemplo, o plebiscito realizado pela entidade, na praça, sobre o que a população achava do primeiro ano do governo Collor – isso antes de ser desencadeado o processo de impeachment do ex-presidente. Da mesma forma, são vários os nomes daqueles que passaram pela entidade e depois envolveram-se mais diretamente na política, como Ansélio Brutolin (que foi chefe de gabinete do ex-prefeito caxiense Gilberto Pepe Vargas, do PT) e o vereador Pedro Incerti (PDT).
A evolução das reivindicações da categoria ao longo do tempo também permeia o livro, que reúne ainda uma seleção de charges temáticas e dados sobre o perfil dos bancários caxienses nos diversos períodos.
– O livro é um ponto de partida – resume Caon, destacando que a obra está aberta a complementações.
Lançamento
O livro será lançado nesta terça-feira, às 18h30min, na sede social do Sindicato dos Bancários de Caxias e Região (Rua Borges de Medeiros, 676), no centro de Caxias do Sul.
A distribuição será gratuita para quem participar do lançamento e para os associados. Para o próximo ano, a ideia é digitalizar o trabalho e disponibilizá-lo para download, também gratuito.
Memória
Sindicato dos Bancários de Caxias lança livro sobre seus 80 anos
Obra, de autoria do doutor em História Marcelo Caon, contextualiza a trajetória da entidade com as diversas épocas das lutas dos trabalhadores
Maristela Scheuer Deves
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