Uma coisa que fica cada vez mais clara na sociedade contemporânea é a abreviação, quando não o banimento, dos ritos fúnebres. Na era da velocidade, a permanência é negligenciada. E, ao contrário de antigamente, sob o razoável argumento de preservá-las, agora também pouco vê-se crianças em velórios ou enterros.
Há quem discorde e até associe o atual crescimento da desvalorização da vida a essa ausência ou indiferença dos jovens nas liturgias da morte - que são, enfim, atos importantes como marco e consciência da inexorável finitude.
Outro costume que caiu em desuso - atualmente chega a ser considerado de mau gosto - é o antigo hábito de distribuir a parentes e amigos, na missa de sétimo dia, lembrancinhas do morto em agradecimento à presença nos funerais.
Lembranças do intendente Vicente Rovea
Porém, volta e meia todos esses rituais são recordados. Em 2007, o historiador e professor Miguel Augusto Pinto Soares fez uma relevante pesquisa sobre o tema em sua dissertação de mestrado Representações da Morte: Fotografia e Memória.
Funeral de Abramo Eberle em 1945
Crianças acompanham o funeral de Maria Fetten Toldo em 1900, em Caxias. Foto: acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação
O velório do revolucionário Quintino Biazus em 17 de outubro de 1923, na antiga localidade de Nova Trento, atual Flores da Cunha. Foto: acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação.
Retratos mortuários
Coletando diversos retratos mortuários, feitos no Rio Grande do Sul entre 1890 e 1963, Soares resgatou o comportamento das famílias, principalmente nas colônias italianas e alemãs, que fotografavam seus mortos ao lado dos entes queridos. Essa imagens eram penduradas nas paredes da sala ou colocadas em porta-retratos nas cristaleiras.
O que hoje pode parecer insuportável morbidez era, na verdade, uma reverência ao falecido, uma tentativa de afrontar a perda e um consolo para viver o luto mais intensamente.
Mais do que tudo, era a compreensão do potencial da fotografia como um meio inigualável. Uma foto é vestígio que torna presente uma ausência. Talvez a única coisa capaz de vencer a morte.
O velório de Domenico Pillonetto em 1935
O enterro de José Scussiato em 28 de abril de 1935. O cortejo seguiu pela Av. Rio Branco em direção à Forqueta, onde foi enterrado e onde moravam seus familiares. Foto: Lauro Schmitt/ Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação
Exéquias de uma integrante da família Isoton ou Rigon, no início do século passado. Foto: acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação
Registro do cortejo fúnebre do empresário Abramo Eberle durante a passagem pela Rua Marquês do Herval, em 13 de janeiro de 1945. Foto: Mancuso/ Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação.
O cortejo de Abramo Eberle rumo ao Cemitério Público de Caxias. Foto: Giacomo Geremia/ Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação
Velório de pessoa desconhecida, por volta de 1910. Foto: acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação
Velório de Dante Morganti, 1898. Foto: Giovanni Batista Serafini/ Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação.
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Informações desta página foram publicadas originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, do colega Ricardo Chaves, de Zero Hora.
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