Jornalista, doutora em Letras, editora-chefe do Pioneiro e da Gaúcha Serra. Apaixonada por histórias e pessoas e ainda não perdeu a fé na humanidade.

Opinião

Tríssia Ordovás Sartori: Paul fora da curva

Nas quase três horas de espetáculo, o artista foi capaz de extasiar a plateia ininterruptamente

Tríssia Ordovás Sartori

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Fabio Panone Lopes / Ilustração

Não sei se já tinha presenciado um momento de catarse tão incrível quanto experimentei no show do Paul McCartney, em Porto Alegre, há uma semana. Se já presenciei, não lembro. 

É difícil até escolher um momento mais especial: estar a poucos metros de um dos fab four, ouvir clássicos da vida interpretados ao vivo, ver o Beira-Rio ser iluminado por lanternas de celular ou observar a expressão de felicidade das pessoas. Melhor do que isso, só dividir o momento com alguém especial, que vai ajudar a recordar das sensações provocadas por esse show durante muito, muito tempo.

Nas quase três horas de espetáculo, o artista foi capaz de extasiar a plateia ininterruptamente. Era só olhar para os rostos e perceber olhos marejados, sorrisos, empolgação. Foram 180 minutos de felicidade plena e compartilhada com uma multidão. 

Um baita privilégio. Porque a felicidade, segundo pesquisadores - num estudo desenvolvido em 80 países com 2 milhões de pessoas -, ocorre em uma curva, durante a nossa existência. Uma curva em U, onde pessoas entre 40 e 50 anos são as menos felizes, possivelmente pela pressão que ainda sofrem e não conseguem se desvencilhar. Não é um fato a ser comemorado, então, ter instantes de felicidade, durante o período mais turbulento?  Não seria perfeito conseguir levar a tranquilidade da juventude e da maturidade para os pequenos eventos cotidianos? Não parece fundamental se permitir viver com intensidade, mudando o ritmo da noite, da semana, do mês, da vida? 

Ok, não teremos sempre Paul McCartney, sequer consigo imaginar um músico que me mobilize daqui a 30 anos para cantar e dançar e curtir e não querer que o momento acabe. Na dúvida, guardo a sensação de felicidade plena na memória, pra evocá-la quando ela ousar desaparecer. Treinemos, pois.

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